Em determinado momento do ministério de Paulo, especialmente ao entender que não veria mais os irmãos das várias igrejas que ajudou a plantar, o apóstolo resolveu chamar os presbíteros de Éfeso para lhes passar orientações. Suas palavras nesse discurso,registrado por Lucas em Atos 20.17-35, trazem profundos ensinamentos sobre a missão da Igreja. Sabemos que para termos uma missiologia paulina é preciso pesquisar sua vida e obra em Atos e nas suas epístolas. No entanto, surpreende-me, como podemos apreender ensinamentos sucintos e profundos nessas palavras de despedida.
O primeiro aspecto da missão da Igreja é pregação do evangelho. Diante daqueles
líderes Paulo diz que “anunciava”, “ensinava”, “testificava” do evangelho do
Reino, que é o mesmo evangelho de Jesus, pois Jesus é o próprio evangelho (a
boa-nova de Deus para a salvação dos pecadores). Aprendemos com o grande
missionário que devemos pregar “todo o desígnio de Deus” (v.27). Lembrando-nos
que o evangelho não pode ser esquartejado, hipervalorizado em algumas doutrinas
e esvaziado em outras.
A pregação exige o chamado ao “arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus” (v.21). A
resposta ao chamado é que haverá aceitação
da parte de muitos, mas também rejeição,
tribulações, prisões e até morte por causa do testemunho de Jesus. Paulo foi
perseguido tanto por judeus, como por gentios.
Esse Evangelho salvador deve ser pregado a todas as pessoas (judeus e gentios) e
em todos os lugares (“publicamente e
também de casa em casa” - v.20). Perante seu ministério de “testemunhar da
graça de Deus” (v.24) com fidelidade e perseverança, é que o apóstolo convoca
os presbíteros ou bispos (pastores) –
líderes com função pastoral – a que cuidassem do rebanho comprado com o sangue
de Deus (v.28). Faz parte do cuidado presbiteral estar alerta contra os falsos
ensinos dos falsos mestres que se levantariam dentre os da igreja. Pastores-presbíteros
têm de estar vigilantes quanto à detecção e correção dos erros (v.31).
Como Paulo realizou seu
apostolado (nos aspectos missionário, doutrinário e pastoral)? Com “humildade,
lágrimas e provações” (v.19). Paulo não era romântico quanto ao ministério. Ele
sabia o que esperava das pessoas. Muitos receberiam a Palavra com alegria, mas
outros reagiriam contra com veemência e perseguição. A obra de Cristo exige dedicação e abnegação. Vigiando também para que a cobiça e a avareza não tomem
conta do coração (vv.33-34). Paulo frisa, também, o lado social, quando fala de socorrer os necessitados (v.35), pois o
evangelho é para a pessoa toda (alma e corpo). Recorda, assim, “as palavras do
próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar do que receber” (v.35).
Embora enfatizando o papel humano na Grande
Comissão de pregar o evangelho a toda criatura, batizar os conversos e ensinar
a guardar a Palavra, não podemos esquecer que a salvação é graça. Só é possível pela vontade soberana, eletiva e
amorosa de Deus. Por isso, o grande bandeirante do evangelho faz uma oração
encomendando os irmãos “ao Senhor e à palavra da sua graça” (v.32). Pois o próprio
Jesus já havia dito que Ele mesmo edificaria a Sua Igreja. Somente Ele “tem o
poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados”
(v.32, ver também Mt 16.18).
Deus dê graça constante aos salvos e
santificados por Ele para que cumpram seu papel missionário de ser fiel na
proclamação do evangelho e plantação de novas igrejas. Não esquecendo que a
Igreja é coadjuvante. O Deus Triúno é o autor principal na salvação dos
pecadores. De forma resumida: Deus Pai escolhe, Deus Filho morre pelos
escolhidos, o Deus Espírito Santo aplica a obra de Cristo. A Igreja é
privilegiada em participar sendo testemunha de Cristo.
O Senhor nos ajude para que sejamos encontrados
fiéis. A Ele toda glória!
Robson Rosa
Santana
Igreja Presbiteriana do Brasil
Igreja Presbiteriana do Brasil