3 de dezembro de 2013

Avatar: mais uma investida do neopaganismo

1. História do filme
O filme ocorre em 2154 d. C.. Thommy tinha uma missão em Pandora. No entanto, morre uma semana antes. Seu irmão JakeSully, que também é um fuzileiro (Marine), mesmo paralítico das pernas, resolve continuar a missão, pois tinha o mesmo genoma. Ele participa de uma experiência em que seres foram criados a partir do DNA dos nativos do planeta Pandora e o DNA dos humanos. Estes seres são chamados de Avatar. Segundo fala de Jake, “o conceito é que o controlador se conecte a seu avatar, para que  o sistema nervoso dos dois se sintonizem”. E assim tentar estabelecer relações cordiais com os nativos humanoides chamados Na’vi[1], com o objetivo maior de explorá-los “diplomaticamente”.
Jake vem se juntar a um grupo de militares que agora se tornaram mercenários neste outro planeta. Grace Augustine[2] é a chefe do programa Avatar. O propósito é se infiltrar como um dos Na’vi, “domesticá-los” e explorar o mineral Unobtanium do planeta deles - Pandora. Os militares prefeririam resolver na força das armas, e o projeto Avatar tenta alcançar o mesmo alvo de forma dissimuladamente amigável.
Em determinado momento Jake em seu avatar vai com outros avatares numa missão de reconhecimento, até que Jake se vê lutando e fugindo com animais de Pandora. Ele se afasta e se perde dos outros. Uma das fêmeas Na’vi o encontra e o ajuda. Depois, Jake é encontrado por outros nativos e é salvo pela “amiga” Na’vi, sendo em seguida levado para a tribo deles. Ao encontrar-se com o líder do grupo, a filha que encontrou o avatar de Jake disse que o trouxe a eles por causa de um sinal de Eywa. Nesse diálogo passa a conhecer a mãe dela, que se chama Tsahik (que significa “aquela que interpreta a vontade de Eywa”)[3]. Nessa conversa Tsahik decide que sua filha ensine ao avatar seus costumes. O centro da aldeia dos Na’vi está em cima do maior depósito de Unobtanium num raio de centenas de quilômetros. A ideia é retirar os nativos de lá e explorar o mineral.
Depois que ele retoma a consciência na base, é instruído por Grace sobre os nomes dos principais dos Na’vi. Dentre eles está Neytiri, que foi a que o ajudou. Ela será a próxima Tsahik. Até que Jake pergunta que é Eywa, e lhe respondem: “só sua divindade, sua deusa, feita de todas as criaturas vivas, e que conhecem”. E assim ele volta para o avatar para aprender com Neytiri. A primeira lição é andar em um tipo de cavalo, sendo feita uma ligação de um tipo de crina do animal com o cabelo dele. Essa ligação é chamada de tsaheylu.
De volta ao treinamento o avatar de Jake tem aprender a voar com uma ave com a qual se tem a mesma ligação tsaheylu. É ensinado a correr sobre as árvores, a atirar com flechas, etc. Essa ligação não se dá apenas entre alguns animais e os Na’vis, mas entre eles e tudo ao redor. Uma das indagações de Jake é justamente sobre isso. Em uma das suas falas em pensamento ele diz: “Ela fala de uma rede de energia que conecta todos os seres vivos. Ela diz que a energia é só emprestada, e um dia temos de devolver”. Jake mata um animal e Neytiri diz que seu espírito voltaria para Eywa e seu corpo ao ser comido faria parte do povo.
Depois de tantas incursões no mundo de Pandora em seu avatar, Jake começa a entrar em crise, questionando se lá de fato não era o mundo real. E o real fosse um sonho. Há também um lugar sagrado para os na’vis chamado Árvore das Almas, onde os seres humanos nunca tiveram permissão de conhecer.
Numa cerimônia Na’vi, o avatar de Jake se torna um filho de Omaticaya e agora faz parte do Povo. Todos vão pondo as mãos nos ombros uns dos outros fazendo uma grande unidade. Neytiri leva Jake para a Árvore das Vozes – vozes dos ancestrais – estes fazendo parte de Eywa. Para finalizar o treinamento, ela lhe diz que ele precisa de uma mulher, a qual ele poderia escolher. Ele diz que essa mulher teria de escolhê-lo, ela responde que ela já o escolheu. Então se beijam e se amam. Ela diz: “eu faço parte de você agora”. Dormem juntos e depois ele acorda e pensa: “o que é que eu fiz”.
Nesse ápice de inserção no mundo de Pandora entre os Na’vis, eles acordam juntos com o barulho das máquinas destruindo a floresta. Ele tenta se interpor. Segundo a Drª Grace Augustine, ela acha que as árvores possuem uma rede de comunicação entre as raízes como se fosse um grande cérebro com mais neurônios do que o cérebro humano, por isso os Na’vis tentarão defender o seu meio ambiente a qualquer custo. Jake e Grace são presos na base da missão, mas conseguem fugir com mais alguns para outra base onde tem máquina que pode levar a mente ao avatar deles. Grace morre, depois de tentarem salvar com a divindade de Pandora, pois estava muito fraca.
Uma batalha épica acontece. Além de outras tribos nativas, juntam-se aos Na’vis os animais terrestres e voadores; que segundo Neytiri foram enviados por Eywa em resposta à prece de Jake. Os nativos, juntamente com o avatar Jake, vencem. Os invasores são mandados de volta. Jake vai à Árvore das Almas e os nativos numa espécie de transe coletivo pedem que o espírito de Jake fosse transferido para o avatar. Os olhos do avatar se abrem. Conseguiram. O filme termina.

2. Meta-história
O escritor e diretor do filme James Cameron é bem conhecido diretor de cinema. É um grande defensor de causas ambientais. A mensagem do filme é bem clara quanto a isso: uma defesa da natureza e dos nativos, apresentando um choque de cosmovisões. A cosmovisão pagã da adoração da natureza, contra o Ocidente cristão.  Somam-se a isso outros elementos bem interessantes. Tentaremos expor esses elementos abordando os aspectos centrais das Escrituras: Criação-Queda-Redenção.

3. Elementos da Criação em Avatar
Todo espaço físico do filme se dá num ambiente do tipo da criação original de Deus. A natureza é preservada pelos nativos. Destacam-se aspectos de comunidade; por serem ainda tribais, a interdependência entre eles é grande. Há entre os Na’vis representantes políticos e religiosos. As regras básicas têm a ver com a diretriz da deusa Eywa. Enquanto que as regras dos “colonizadores” é a do maior lucro no menor espaço de tempo. A beleza do lugar é impar; criação de um mundo paralelo ao nosso. Ou seja, uma subcriação aos moldes da criação por Deus. Somando-se o fato da grande tecnologia usada que dá uma beleza visual impecável. Existe uma enorme diversidade de coisas e seres, mas, ao mesmo tempo, isso tudo é um (abordaremos essa questão nos elementos da queda).

4. Elementos da Queda em Avatar
A Bíblia faz uma clara distinção entre criação e Criador. Deus é onipresente, mas é distinto das coisas que criou. No filme o elemento idólatra é gritante. Tudo faz parte da divindade chamada Eywa. Essa divindade está em tudo e tudo faz parte dela – como destacamos na história do filme. Existe a Árvore das Almas, para onde vão as almas dos ancestrais mortos e aos quais invocam e pedem. A ligação entre bestas parecidas com cavalos e dragões reforçam essa unidade (o tsaheylu). Enfim, no filme existem alguns elementos do paganismo histórico. Há o animismo – todas as coisas possuem almas. Panteísmo – todas as coisas são manifestações da divindade; Deus é tudo. Embora existam religiões panteístas na terra, Avatar evoca de forma contundente que Pandora não é somente uma divindade que abrange a tudo (panteísmo), mas que o planeta é um único organismo vivo. Essa ideia é chamada de Hipótese de Gaia, proposta pelo investigador inglês James Lovelock em 1972 – ainda discutida no meio acadêmico. Conforme Fernando Rebouças, “A teoria de Gaia tem simpatizantes ambientalistas, místicos e pesquisadores”.[4]Além do aspecto supracitado da idolatria pagã animista e panteísta e de resquícios da Teoria de Gaia, há outros aspectos da queda, como avareza e violência.

5. Elementos de Redenção em Avatar
Há vários elementos de Redenção, tais como a beleza impressionante da natureza recriada por James Cameron em Pandora. Há harmonia dentro da própria “tribo” Na’vi e do Povo com seu meio ambiente, uma harmonia que Deus queria que os seres humanos tivessem com a Terra. Teólogos chamam isso de Mandato Cultural, onde Deus fala para o homem cultivar a Terra, bem como cuidar dela (Gn 2.15).
O tema da eternidade é subjacente e tácito, uma vez que a harmonia dos seres vivos com o restante da natureza vira um círculo unitariano, pois os seres vivos morrem e voltam à terra, ou seja, à Terra viva, à deusa mãe Eywa. Já que o que existe é “uma rede de energia que conecta todos os seres vivos. [...] a energia é só emprestada, e um dia temos de devolver”. Há também um aspecto vicário no personagem de JakeSully, quando dar tudo de si pelo outro, até que enfim se torna o outro.

6. Aplicações práticas
Como já dissemos o filme tem uma abordagem idólatra própria do animismo-panteísmo. Diz o apóstolo Paulo em Romanos 1.25: “pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém”. Doxologicamente, vemos uma inversão das coisas como reveladas na Palavra. Deus é Criador distinto da criação. Por meio dela glorificamos Aquele que fez todas as coisas.
Numa aplicação eclesiológica, temos de alertar aos nossos irmãos em Cristo para estarem atentos ao consumirem cultura, seja popular ou não. Manifestações culturais nunca são neutras. Elas sempre comunicam cosmovisões. No caso de Avatar, a mensagem está lá e precisamos discerni-la.
O filme também serve para analisar a cosmovisão dos incrédulos. Devemos reconhecer que temos de cultivar/lavrar a terra, ou seja, usufruirmos dela, sem exaurirmos seus recursos, dificultando a própria relação do planeta que provê os recursos de subsistência nossa. No entanto, observar o mandato cultural de cuidar/guardar a terra, não deve nos levar a adorá-la, como se, de fato, ela fosse nossa “mãe”, ela como a origem de tudo, pelo contrário. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Rm 11.36).

Robson Rosa Santana
Texto apresentado como trabalho do módulo Hermenêutica Cultural e Ministério Pastoral, do Mestrado em Divindade (M. Div. - Missões Urbanas), do CPAJ.


[1] Há uma semelhança dessa palavra com palavra hebraica para profeta. Talvez querendo dizer que o povo era um tipo de profeta.
[2] Chama a atenção que o nome da cientista chefe é Grace (Graça), nome de uma doutrina central do cristianismo histórico; e o sobrenome Augustine (Agostinho) refere-se a um dos pais da Igreja do século IV, que é considerado uma das maiores influencias da civilização Ocidental.
[3] É a líder espiritual, tipo de uma Xamã. 
[4] REBOUÇAS, Fernando.Teoria de Gaia, in: http://www.infoescola.com/ecologia/teoria-de-gaia/, acesso em 14 de ago. 2013.