25 de junho de 2012

A Centralidade do Evangelho - Tim Keller

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Tim Keller* 

PRINCÍPIO
Em Gálatas 2.14, Paulo estabelece um poderoso princípio. Ele lida com o orgulho racial e covardia de Pedro, declarando que ele não estava vivendo “de acordo com a verdade do evangelho”. A partir disso vemos que a vida cristã é um processo de renovação de todas as dimensões da nossa vida – espiritual, psicológica, empresarial, social – através do pensamento, esperando e vivendo as “direções” ou ramificações do evangelho. O evangelho deve ser aplicado a todas as áreas do pensamento, sentimento, relacionamento, trabalho e comportamento. As implicações e aplicações de Gálatas 2.14 são vastas.

Parte I – IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES

IMPLICAÇÕES

Implicação nº1 – O poder do evangelho
Primeiro, Paulo está mostrando-nos que trazer a verdade do evangelho sobre cada área da nossa vida é o modo de ser mudado pelo poder de Deus. O evangelho é descrito na Bíblia nos termos mais surpreendentes. Os anjos desejam observá-lo todo o tempo (1 Pedro 1.12). Não somente nos traz poder, mas é o próprio poder de Deus, por isso Paulo diz: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16). É também a benção de Deus com os benefícios, que se volta para cada um que se aproxima (1 Co 9.23). Ele é até chamado a própria luz da glória de Deus em si - “para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus... Pois Deus... ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4.4, 6).

Ele tem a vida de Deus. Paulo disse aos coríntios, “eu lhes dei à luz através do evangelho”! E assim, depois que ele nos regenerou, é o instrumento de todo o crescimento contínuo e progresso espiritual depois que somos convertidos. “Por todo o mundo este evangelho vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade” (Cl 1.6). Aqui nós aprendemos: 1) Que o evangelho é uma coisa viva (cf. Romanos 1.16) semelhante a uma semente ou uma árvore que traz mais e mais vida nova - frutificando e crescendo. 2) Que o evangelho só é "plantado" em nós de modo a dar frutos quando entendemos a sua grandeza e implicações profundamente - compreendendo a graça de Deus em toda a sua verdade. 3) Que o Evangelho continua a crescer em nós e nos renovar ao longo das nossas vidas - como vem fazendo desde o dia em que você o ouviu. Este texto nos ajuda a evitar uma abordagem exclusivamente racionalista ou mística da renovação. Por um lado, o evangelho tem um conteúdo - é doutrina profunda. É verdade, e, especificamente, é a verdade sobre a graça de Deus. Mas por outro lado, esta verdade é uma força viva que continuamente expande sua influência em nossas vidas, assim como uma cultura ou uma árvore que crescem e se espalham e domina mais e mais de uma área com raízes e frutos.

Implicação nº2 – A suficiência do evangelho

Segundo, Paulo está mostrando que nós nunca devemos "ir além do evangelho" em nossa vida cristã para algo mais "avançado". O evangelho não é o "passo" primeiro de uma "escada" de verdades, mas sim, é mais parecido com o "cubo" em uma "roda" da verdade. O evangelho não é apenas o A-B-C, mas o A a Z do cristianismo. O evangelho não é apenas a doutrina do mínimo exigido necessário para entrar no reino, mas o caminho para fazermos todo o progresso no reino.

Não somos justificados por meio do evangelho e, em seguida, santificados pela obediência, mas o evangelho é o modo como crescemos (Gl 3.1-3) e somos renovados (Cl 1.6). É a solução para cada problema, a chave para cada porta fechada, o poder através de cada barreira (Rm 1.6-17).

É muito comum na igreja pensar como segue. “O evangelho é para não cristãos. Alguém precisa ser salvo. Mas uma vez salvo, cresce através de trabalho duro e obediência”. Mas Colossenses 1.6 mostra que isso é um erro. Confissão e "trabalho duro" que não são decorrentes dele e "de acordo" com o evangelho não vai santificar você - vai te estrangular. Todos os nossos problemas vêm de uma falha em aplicar o evangelho. Assim, quando Paulo saiu de Efésios ele os entregou "à palavra da sua graça, que pode edificá-los" (Atos 20.32).

O principal problema, então, na vida cristã é que nós não pensamos nas implicações profundas do evangelho, não temos "usado" o evangelho em e sobre todas as partes da nossa vida.

Richard Lovelace diz que a maior parte dos problemas das pessoas é apenas uma falha em ser orientados para o evangelho - uma incapacidade de compreender e acreditar nele por completo. Lutero diz: "A verdade do Evangelho é o artigo principal de toda a doutrina cristã .... Muito necessário é que nós saibamos desse artigo bem, ensinemos aos outros, e ponhamos em suas cabeças continuamente" (Gl 2.14ss.). O evangelho não é facilmente compreendido. Paulo diz que o evangelho só faz seu trabalho renovador em nós quando o entendemos em toda a sua verdade. Todos nós, em algum grau vivemos em torno da verdade do evangelho, mas não a "alcançamos". Portanto, a chave para a renovação contínua, aprofundamento espiritual e avivamento é a contínua redescoberta do evangelho. Uma fase de renovação é sempre a descoberta de uma nova implicação ou aplicação do evangelho - vendo mais de sua verdade. Isto é verdadeiro para um indivíduo ou uma igreja.

APLICAÇÕES

Os dois “ladrões” do evangelho

Uma vez que Paulo usa uma metáfora para vivermos "de acordo" com o evangelho, podemos considerar que a renovação do evangelho ocorre quando nos guardamos de andar em "desacordo", seja indo para a direita ou para a esquerda. A chave para se pensar nas implicações do evangelho é a de considerar o evangelho um "terceiro" caminho entre dois opostos equivocados. No entanto, antes de começarmos, devemos entender que o evangelho não é uma concessão a meio caminho entre os dois polos - ele não produz "algo no meio", mas algo diferente de ambos. O evangelho critica tanto a religião como a irreligião (Mt 21.31; 22.10).

Tertuliano disse, “Assim como Cristo foi crucificado entre dois ladrões, esta doutrina da justificação está sempre crucificada entre dois erros opostos”. Tertuliano queria dizer que existem dois modos básicos falsos de pensamento, cada um dos quais “rouba” de nós o poder e a singularidade do evangelho, pois nos puxa para “fora do evangelho” para um lado ou para outro. Esses dois erros são muito poderosos, porque eles representam a tendência natural do coração e mente humanos. (O evangelho é “revelado” por Deus (Rm 1.17) - a mente humana por si só não pode concebê-la). Esses “ladrões” podem ser chamados moralismo ou legalismo por um lado, e hedonismo ou relativismo por outro lado. Outra maneira de colocar é: o evangelho se opõe tanto a religião quanto a irreligião. Por um lado, o "moralismo/religião" enfatiza a verdade sem a graça, pois diz que devemos obedecer à verdade, a fim de ser salvo. Por outro lado, o "relativismo/irreligião" enfatiza a graça sem a verdade, pois eles dizem que todos nós somos aceitos por Deus (se existe um Deus) e nós temos que decidir o que é verdadeiro para nós. Mas a "verdade" sem a graça não é realmente verdade, e "graça" sem verdade não é realmente graça. Jesus era "cheio de graça e de verdade". Qualquer religião ou filosofia de vida que não enfatiza ou perde uma ou outra dessas verdades, cai no legalismo ou em licenciosidade, e de alguma forma, a alegria e poder, e a "liberdade" do evangelho é roubada por um ladrão ou outro.
"Eu sou mais pecador e imperfeito do que jamais ousei acreditar" (vs. antinomismo)
"Eu sou mais aceito e amado do que jamais ousei esperar" (vs. legalismo).


O ladrão moralismo-religião. Como o moralismo/religião rouba a alegria e o poder?

O moralismo é a visão de que você é aceitável (a Deus, ao mundo, aos outros, a você mesmo) através de suas realizações. (Os moralistas não têm de ser religiosos, mas muitas vezes são). Quando são, a sua religião é bastante conservadora e cheia de regras. Às vezas os moralistas têm a visão de Deus como muito santo e justo. Essa visão vai levar tanto a a) auto-ódio (porque não pode viver de acordo com as normas), ou b) auto-presunção (porque acha que tem de viver de acordo com os padrões). É irônico perceber que os complexos de inferioridade e de superioridade têm a mesma raiz. Se o moralista termina presunçoso e superior ou esmagado e culpado só depende de quão alto as normas são e das vantagens naturais de uma pessoa (como a inteligência, família, aparência, força de vontade). Pessoas moralistas podem ser profundamente religiosas – mas não há alegria ou poder transformador.

O ladrão relativismo-irreligião. Como o relativismo rouba a alegria e o poder?

Os relativistas são geralmente sem religião, ou então preferem o que é chamado de religião "liberal". Na superfície, eles são mais felizes e tolerantes do que as pessoas moralistas/religiosas. Embora possam ser altamente idealistas em algumas áreas (como a política), eles acreditam que todo mundo precisa determinar o que é certo e errado para eles. Eles não estão convencidos de que Deus é justo e deve punir os pecadores. Suas crenças em Deus tende a vê-Lo como o amor ou como uma força impessoal. Eles podem falar muito sobre o amor de Deus, mas desde que eles não pensam em si mesmos como pecadores, o amor de Deus por nós custa lhe nada. Se Deus nos aceita é porque ele é tão acolhedor, ou porque não somos tão maus assim. O conceito do amor de Deus no evangelho é muito mais rico, profundo e eletrizante.

O que as pessoas religiosas e sem religião têm em comum? Elas parecem diferentes, mas do ponto de vista do evangelho, elas são, de fato, o mesmo.

São formas de evitar a Jesus como Salvador e manter o controle de suas vidas. Pessoas não religiosas procuram ser os seus próprios salvadores e senhores através da irreligião, o orgulho "mundano". ("Ninguém me diz como viver ou o que fazer, então eu determino o que é certo e errado para mim!"). Mas as pessoas morais e religiosas pretendem ser seus próprios salvadores e senhores através da religião, orgulho "religioso". ("Eu sou mais virtuoso e espiritual que as outras pessoas, assim Deus me deve ouvir as minhas orações e me levar ao céu. Deus não pode deixar algo acontecer comigo - Ele me deve uma vida feliz. Eu a tenho merecido!"). A pessoa irreligiosa rejeita Jesus completamente, mas o religioso só usa Jesus como um exemplo, ajudador e mestre - mas não como um Salvador. (Flannery O'Connor escreveu que as pessoas religiosas pensam "que o caminho para evitar Jesus era evitar o pecado..."). Estas são duas maneiras diferentes de fazer a mesma coisa - controle de nossas próprias vidas. (Note: Ironicamente, os moralistas, apesar de toda a ênfase em padrões tradicionais, são egocêntricos e individualistas, porque eles se estabeleceram como seu próprio Salvador. Os relativistas, apesar de toda a sua ênfase na liberdade e aceitação, são afinal moralistas, porque ainda têm que atingir e viver de acordo com (seus próprios) padrões ou ficam desesperados. E, muitas vezes, eles têm um grande orgulho em sua própria abertura de espírito e julgam os outros que não são).

Ambos são baseados em visões distorcidas do Deus verdadeiro.
A pessoa perde a visão irreligiosa da lei e da santidade de Deus e a pessoa perde a visão religiosa do amor e da graça de Deus, no final ambos perdem o evangelho inteiramente. Pois o evangelho significa que na cruz Jesus cumpriu a lei de Deus por amor a nós. Sem uma compreensão completa da obra de Cristo, a realidade da santidade de Deus fará sua graça irreal, ou a realidade do seu amor fará sua santidade irreal. Somente o evangelho - que afirma que somos tão pecadores que precisamos ser salvos completamente pela graça - permite uma pessoa ver Deus como ele realmente é. O evangelho nos mostra um Deus muito mais santo do que o legalista pode suportar (ele teve que morrer porque não podíamos satisfazer suas santas demandas) e ainda muito mais misericordioso do que um humanista pode conceber (ele tinha que morrer, porque ele nos amou).

Ambos negam nosso pecado - assim perdem a alegria e o poder da graça.
É óbvio que pessoas sem religião e relativistas negam a profundidade do pecado e, portanto, a mensagem "Deus ama você” não tem poder para eles. Mas, embora as pessoas religiosas possam estar extremamente arrependidas e tristes por seus pecados, elas veem os pecados simplesmente como a incapacidade de viver de acordo com padrões pelos quais eles estão se salvando. Eles não veem o pecado como a mais profunda auto-justificação e egocentrismo por meio do qual estão tentando viver uma vida independente de Deus. Então, quando eles vão a Jesus para o perdão, apenas como uma forma de "encobrir as lacunas” em seu projeto de auto-salvação. E quando as pessoas dizem, “Eu sei que Deus é perdão, mas eu não posso me perdoar”, elas querem dizer que rejeitam a graça de Deus e insistem que sejam dignas de seu favor. Assim, mesmo as pessoas religiosas com “baixa autoestima" estão realmente em seu medo porque eles não vão ver a profundidade do pecado. Elas a veem apenas como quebrar as regras, não como rebelião e auto-salvação.

Um novo modo de ver Deus
Portanto, os cristãos são aqueles que adotaram um completo novo sistema de aproximar-se de Deus. Eles podem ter tido fases religiosas e fases irreligiosas em suas vidas. Mas eles têm visto que sua razão inteira para sua irreligião e sua religião era essencialmente a mesma e essencialmente errada! Os cristãos veem que tanto seus pecados quanto suas melhores ações têm todos realmente sido modos de evitar Jesus como Salvador. Eles veem que o cristianismo não é fundamentalmente um convite para obter mais religiosidade. Um cristão vem a dizer: “ainda que eu tivesse frequentemente falhado em obedecer à lei moral, o problema mais profundo foi por que eu estava tentando obedecê-la! Meus esforços em obedecê-la foi apenas um modo de procurar ser meu próprio salvador. Nessa condição, ainda que eu obedecesse ou buscasse perdão, eu estava realmente resistindo ao evangelho e colocando-me como meu próprio salvador.” “Obter o evangelho” é voltar-se da auto-justificação e confiar no melhor de Jesus para um relacionamento com Deus. Mas os cristãos também se arrependem de sua justiça. Que é a distinção entre os três grupos - cristãos, moralistas (religiosos) e pragmatistas (sem religião).

Resumo. Sem o conhecimento do nosso pecado extremo, o pagamento da cruz parece trivial e não impressiona ou transforma. Mas, sem um conhecimento da vida e morte completamente satisfatória de Cristo, o conhecimento do pecado nos esmagaria ou mover-nos-ia a negar e reprimi-la. Tire o conhecimento do pecado ou o conhecimento da graça e a vida das pessoas não mudará. Serão esmagados pela lei moral ou fugirão dela com raiva. Assim, o evangelho não significa que deixamos de ser irreligioso para ser religioso, mas que percebemos que nossas razões para nossa religiosidade e nossa irreligiosidade foram essencialmente as mesmas e essencialmente erradas. Nós estávamos procurando ser os nossos próprios salvadores e, assim, manter o controle de nossa própria vida. Quando confiamos em Cristo como nosso Redentor, voltamo-nos da confiança ou autodeterminação ou abnegação para a nossa salvação - seja do moralismo ou o hedonismo.

Um novo modo de ver a vida
Paulo mostra-nos, então, que não devemos apenas simplesmente inquirir em cada área da vida: “qual é o caminho moral para agir?”, mas, “qual é o caminho que está de acordo com o evangelho?”. O evangelho deve ser continuamente "pensado" para nos impedir de passar para as nossas habituais direções moralistas ou individualistas. Temos de trazer tudo em consonância com o evangelho.

O exemplo do racismo
Uma vez que Paulo usou o evangelho acerca do racismo, vamos usá-lo como exemplo:

A abordagem moralista para raça. Moralistas/legalistas tendem a ser muito orgulhosos de sua cultura. Eles caem no imperialismo cultural. Eles tentariam atribuir um significado espiritual para os seus estilos culturais, para se sentirem moralmente superiores aos outros povos. Isso acontece porque as pessoas moralistas são muito inseguras, uma vez que elas procuram muito na lei eterna, e sabem no fundo que não podem guardá-la. Então eles usam as diferenças culturais para reforçar seu senso de justiça.

A abordagem relativista/hedonista para raça. O erro oposto do imperialismo cultural seria o relativismo cultural. Esta abordagem diria: "sim, povos tradicionais eram racistas porque acreditavam em verdade absoluta. Mas a verdade é relativa. Toda cultura é bela em si mesma. Cada cultura tem de ser aceita em seus próprios termos."

A abordagem do evangelho para raça. Os cristãos sabem que o racismo não deriva muito da crença na verdade, mas de uma falta de crença na graça. O evangelho nos leva a ser: a) por um lado, um pouco crítico de todas as culturas, incluindo a nossa própria (já que não é a verdade), mas b) por outro lado, não podemos nos sentir moralmente superiores a ninguém. Afinal de contas, somos salvos pela graça, e, portanto, um vizinho não-cristão pode ser mais ético e sábio que você. Isto dá ao cristão uma postura radicalmente diferente do que quer os moralistas ou os relativistas.

Nota: Os relativistas (como dissemos acima) são fundamentalmente moralistas. E, portanto, podem ser respeitosos somente de outro povo que acredita que tudo é relativo! Mas os cristãos não podem se sentir moralmente superiores aos relativistas.

O exemplo de uma deficiência física
Vamos descer a partir de algo sociológico (o racismo) para algo psicológico. Imagine que por doença ou acidente, você perdeu a sua visão - ficou cego. Como levaria o evangelho para aliviar esta dor e sofrimento? A pessoa moralista ou a) desesperará, porque a deficiência tira algo que era sua "justiça" ou b) negará, recusar-se-á a admitir a nova limitação permanente. A pessoa hedonista também ou a) desesperará, porque a deficiência tirará sua capacidade de viver uma vida orientada para o prazer, ou b) negará, porque sua filosofia não pode suportar isso. Mas o evangelho levará a a) resistir à deficiência, e b) aceitá-la também. Muita resistência é negação e muita aceitação é desespero. O evangelho é verdadeiro sobre o pecado e a graça, e assim pode dar à pessoa com deficiência o mesmo equilíbrio.


GRUPO DE DISCUSSÃO

1. Compartilhe a) o que mais ajudou você, e b) o que intrigou você.

2. Agora tente pensar nos seguintes três temas para chegar a uma posição baseada no Evangelho. Em cada caso, distinga a visão moralista, a visão hedonista/relativista, e a visão do evangelho:


Como evangelizar os não-cristãos.




Como se relacionar (como adultos) com pais difíceis.




Como considerar os pobres.




(Depois que você terminar, verifique o apêndice. Ver A.6, A.9, B.3)




3. Se houver tempo, escolha outras questões ou assuntos que o grupo quer trabalhar, usando o mesmo esquema para pensar sobre isso.

4. Antes de concluir, selecione um problema ou questão pessoal em sua vida. Durante a próxima semana, ore, reflita e preencha o formulário abaixo:

a. O modo moralista de lidar com isso:




b. O modo hedonista de lidar com isso:




c. O modo do evangelho lidar com isso:


Parte II. – A CHAVE PARA TUDO

Vimos que o evangelho é o modo que tudo é renovado e transformado por Cristo - seja um coração, um relacionamento, uma igreja ou uma comunidade. É a chave para toda a doutrina e visão de nossas vidas neste mundo. Portanto, todos os nossos problemas vêm de uma falta de orientação para o evangelho. Avalie positivamente, o evangelho transforma nossos corações e pensamento e aborda absolutamente tudo.


A. O Evangelho e o indivíduo
1. Abordagem acerca do desencorajamento. Quando uma pessoa está deprimida, o moralista diz: "você está quebrando as regras – arrependa-se." Por outro lado, o relativista diz: "você só precisa amar e aceitar a si mesmo". Mas (presumindo que não haja base fisiológica da depressão) o evangelho nos leva a examinar a nós mesmos e diz: "alguma coisa na minha vida se tornou mais importante do que Deus, um pseudo-salvador, uma forma de obras de justiça". O evangelho nos leva ao arrependimento, mas não apenas define a nossa vontade contra superficialidades. É sem o evangelho que superficialidades serão tratadas em vez do coração. O moralista trabalha sobre o comportamento e o relativista trabalha sobre as próprias emoções.

2. Abordagem acerca do mundo físico. Alguns moralistas são indiferentes ao mundo físico - eles veem-no como "sem importância", enquanto muitos outros são absolutamente temerosos do prazer físico. Uma vez que estão tentando ganhar a sua salvação, eles preferem concentrar-se em pecados do físico como sexo e outros apetites. Estes são mais fáceis de evitar que os pecados do espírito, como orgulho. Portanto, eles preferem ver os pecados do corpo como pior do que outros tipos. Como resultado, o legalismo geralmente leva a um desgosto pelo prazer. Por outro lado, o relativista é muitas vezes um hedonista, alguém que é controlado pelo prazer, e que o torna um ídolo. O evangelho nos leva a ver que Deus inventou o corpo e a alma e assim vai resgatar o corpo e a alma, embora sob o pecado o corpo e a alma estejam maculados. Assim, o evangelho nos leva a apreciar o físico (e para lutar contra a fragilidade física, como a doença e a pobreza), porém deve ser moderado no uso das coisas materiais.

3. Abordagem acerca do amor e relacionamentos. O moralismo muitas vezes torna as relações um "jogo de culpa". Isto porque um moralista está traumatizado pela crítica que é muito severa, e mantém uma autoimagem como uma boa pessoa culpando os outros. Por outro lado, o moralismo pode usar a conquista do amor como forma de "ganhar a nossa salvação", e nos convencer de que somos pessoas dignas. Isso muitas vezes cria o que é chamado de "codependência" - uma forma de autossalvação através da necessidade das pessoas ou a necessidade que as pessoas precisam de você (ou seja, salvando a si mesmo pela salvação de outros). Por outro lado, muito do relativismo/liberalismo reduz o amor a uma parceria negociada para benefício mútuo. Você apenas se relaciona desde que isso não lhe custe nada. Assim, a escolha (sem o evangelho) é para usar os outros egoisticamente ou a deixar-se egoisticamente ser usado por outros. Mas o evangelho nos leva a fazer nenhuma das duas coisas. Nós fazemos sacrifícios e compromissos, mas não de uma necessidade de convencer a nós mesmos ou outros que somos aceitáveis. Assim, podemos amar a pessoa o suficiente para confrontar, mas permanecemos com a pessoa quando ela não nos beneficia.

4. Abordagem acerca do sofrimento. O moralismo leva à abordagem dos "amigos de Jó", pondo culpa sobre si mesmo. Você simplesmente assume: "Eu devo ser mal para estar sofrendo". Sob a culpa, no entanto, há sempre a raiva em direção a Deus. Por quê? Porque os moralistas acreditam que Deus lhes deve. O ponto de todo moralismo é colocar Deus em nossa dívida. Porque você tem sido tão ético, sente que realmente não merece sofrer. Assim o moralismo faz você chorar, para o nível que você pensa, "o que eu fiz para merecer isso?", mas em outro nível você pensa, "eu provavelmente fiz tudo para merecer isso!" Assim, se o moralista sofre, ele ou ela deve sentir raiva de Deus (porque eu tenho tido um bom desempenho) ou raiva de si mesmo (porque eu não tenho tido um bom desempenho), ou ambos. Por outro lado, o relativismo/pragmatismo sente-se justificado para evitar o sofrimento a todo custo - mentir, enganar e promessas não cumpridas são aprovados. Mas quando o sofrimento vem o pragmático também coloca a culpa na porta de Deus, alegando que ele deve ser ou injusto ou impotente. Mas a cruz nos mostra que Deus nos redimiu através do sofrimento. Que ele sofreu para que não possamos sofrer, mas que em nosso sofrimento podemos nos tornar como ele. Uma vez que o moralista e o pragmático ignoram a cruz de maneiras diferentes, ambos estarão confusos e devastados pelo sofrimento.

5. Abordagem acerca da sexualidade. O secularista/pragmático vê o sexo como apetite meramente biológico e físico. O moralista tende a ver o sexo como sujo ou, pelo menos, um impulso perigoso que leva constantemente ao pecado. Mas o evangelho nos mostra que a sexualidade é para refletir a autodoação de Cristo. Ele deu-se totalmente sem condições. Assim não estamos a procurar intimidade, mas manter o controle de nossas vidas. Se nós nos damos sexualmente estamos a dar-nos legalmente, socialmente, pessoalmente - totalmente. Sexo só deve acontecer em um relacionamento totalmente comprometido, no relacionamento permanente do casamento.

6. Abordagem acerca da família. O moralismo pode fazer de você um escravo das expectativas dos pais, enquanto que o pragmatismo não vê necessidade de lealdade à família ou à manutenção de promessas e pactos se não "satisfizer as minhas necessidades". O evangelho liberta-o de fazer da aprovação dos pais uma salvação absoluta ou psicológica, apontando como Deus se torna o pai supremo. Então você vai ser nem muito dependente nem muito hostil a seus pais.

7. Abordagem acerca do autocontrole. Os moralistas dizem-nos para controlar nossas paixões por medo de punição. Esta é uma abordagem baseada na vontade. O liberalismo diz-nos para nos expressarmos e descobrirmos o que é certo para nós. Esta é uma abordagem baseada na emoção. O evangelho nos diz que a graça livre e amável de Deus "ensina-nos" a "dizer não" às nossas paixões (Tito 2.13), se nós a ouvirmos. Esta é uma abordagem baseada em toda pessoa, começando com a verdade descendo para o coração.

8. Abordagem acerca de outras raças e culturas. A abordagem liberal é relativizar todas as culturas. ("Todos nós podemos conviver, porque não há verdade".) Os conservadores acreditam que há uma verdade para a avaliação das culturas, e assim eles escolhem alguma cultura como superior e então a idolatram, sentindo-se superiores aos outros no impulso do orgulho autojustificante. O evangelho nos leva a ser: a) por um lado, um pouco crítico de todas as culturas, incluindo a nossa própria (já que não é a verdade), mas b) por outro lado, não somos moralmente superiores a ninguém. Afinal de contas, somos salvos pela graça. Os cristãos exibirão tanto convicção moral quanto compaixão e flexibilidade. Por exemplo, os gays costumam ser "esmagados" e odiados ou completamente aceitos. Eles nunca veem algo mais.

9. Abordagem acerca do testemunho aos não-cristãos. A abordagem liberal/pragmatista é negar a legitimidade do evangelismo completamente. A pessoa conservadora/moralista acredita em proselitismo, porque "nós estamos certos e eles errados". Tal proselitismo é quase sempre ofensivo. Mas o evangelho produz uma constelação de características em nós. a) Primeiro, somos compelidos a compartilhar o evangelho de generosidade e amor, não de culpa. b) Segundo, estamos livres do medo de sermos ridicularizados ou magoados por outros, pois já temos o favor de Deus pela graça. c) Terceiro, há humildade em nosso trato com as pessoas, porque sabemos que somos salvos somente pela graça, não por causa de nossa visão superior ou caráter. d) Quarto, estamos esperançosos acerca de qualquer um, mesmo os "casos difíceis", porque fomos salvos apenas por causa da graça, não porque éramos pessoas susceptíveis a sermos cristãos. e) Quinto, somos corteses e cuidadosos com as pessoas. Não temos que empurrá-las ou coagi-las, pois é somente a graça de Deus que abre os corações, e não a nossa eloquência ou persistência ou mesmo a abertura delas. Todas essas características não só criam um evangelista cativante, mas um vizinho excelente em uma sociedade multicultural.

10. Abordagem acerca da autoridade humana. Os moralistas tenderão a obedecer muito às autoridades humanas (família, tribo, governo, costumes culturais), uma vez que confiam tanto em sua autoimagem de ser ético e decente. Os pragmáticos vão obedecer muito à autoridade humana (já que não têm autoridade superior, através da qual eles podem avaliar a sua cultura), ou então muito pouco (uma vez que só podem obedecer quando eles sabem que não serão pegos). Isso significa autoritarismo ou anarquia. Mas o evangelho lhe dá tanto um padrão pelo qual se opor a autoridade humana (se ela contradiz o evangelho), como por outro lado, dá-lhe incentivo a obedecer às autoridades civis de coração, mesmo quando você pode escapar ao desobedecer.

11. Abordagem acerca da dignidade humana. Os moralistas frequentemente têm uma visão muito baixa da natureza humana - eles veem principalmente o pecado e a depravação humana. Os pragmáticos, por outro lado, não têm boa base para tratar as pessoas com dignidade. Normalmente eles não têm crenças religiosas sobre o que os seres humanos são. (Se eles são apenas produto casual da evolução, como sabemos que eles são mais valiosos do que uma rocha?). Mas o evangelho nos mostra que cada ser humano é infinitamente caído (perdido em pecado) e infinitamente exaltado (na imagem de Deus). Por isso, tratamos cada ser humano como precioso, porém perigoso!

12. Abordagem acerca da culpa. Quando alguém diz: "Eu não posso me perdoar", isso significa que existe algum padrão ou condição ou pessoa que é mais importante para sua identidade do que a graça de Deus. Deus é o único Deus que perdoa - nenhum outro "deus" o fará. Se você não consegue perdoar a si mesmo, é porque você está aquém de seu verdadeiro Deus, sua justiça real, e está mantendo você cativo. O deus falso do moralista é geralmente um deus de sua imaginação, que é santo e exigente, mas não gracioso. O falso deus do pragmatista é, geralmente, alguma realização ou relacionamento.

13. Abordagem acerca da autoimagem. Sem o evangelho, sua autoimagem é baseada em viver de acordo com alguns padrões - seja seu ou de alguém impostos a você. Se você viver de acordo com os padrões, você será confiante, mas não humilde. Se você não viver à altura deles, você será humilde, mas não confiante. Só no evangelho que você pode ser ao mesmo tempo muito ousado e totalmente sensível e humilde. Porque você é ambos, perfeito e pecador!

14. Abordagem acerca da alegria e humor. O moralismo tende a corroer a verdadeira alegria e humor - porque o sistema do legalismo força você a tomar a si mesmo (a sua imagem, sua aparência, sua reputação) muito a sério. O pragmatismo, por outro lado, tenderá ao cinismo como a vida continua por causa do inevitável cinismo que cresce. Este cinismo cresce a partir de uma falta de esperança quanto ao mundo. No final, o mal triunfará - não há julgamento ou justiça divina. Mas somos salvos pela graça somente, então o fato de sermos cristãos é uma fonte constante de prazer maravilhado. Não há nada de factual sobre nossas vidas, nem “é claro” para as nossas vidas. É um milagre que sejamos cristãos, e que tenhamos esperança. Assim, o evangelho que cria humildade ousada deveria nos dar um sentido muito mais profundo do humor. Nós não temos de nos levar a sério, e somos cheios de esperança pelo mundo.

15. Abordagem acerca do "bem viver". Jonathan Edwards observa que "a verdadeira virtude" só é possível para aqueles que experimentaram a graça do evangelho. Qualquer pessoa que está tentando ganhar a sua salvação faz "a coisa certa", a fim de entrar no céu, ou para melhorar sua autoestima (etc.). Em outras palavras, o motivo final é autointeresse. Mas as pessoas que sabem que são totalmente aceitas já fazem "a coisa certa" por puro deleite na justiça para seu próprio bem. Só no evangelho você obedece a Deus por amor de Deus, e não pelo que Deus lhe dará. Só no evangelho você ama as pessoas por causa delas (não de você), faz o bem por si mesmo (não de você), e obedecem a Deus por causa dele (não de você). Somente o evangelho faz com que "fazer a coisa certa" seja uma alegria e prazer, não um fardo ou um meio para um fim.


B. O Evangelho e a igreja

1. Abordagem acerca do ministério no mundo. O legalismo tende a colocar toda a ênfase sobre a alma humana individual. A religião legalista vai insistir em converter os outros à sua fé e igreja, mas vai ignorar as necessidades sociais da comunidade em geral. Por outro lado, o "liberalismo" vai tender a enfatizar só a melhoria das condições sociais e minimiza a necessidade de arrependimento e conversão. O evangelho leva ao amor, que por sua vez nos leva a dar ao nosso próximo o que for necessário - conversão ou um copo de água fria, evangelismo e preocupação social.

2. Abordagem acerca da adoração. O moralismo leva a um culto sisudo e sombrio que pode ser grande em dignidade, mas pequeno em alegria. A compreensão superficial de "aceitação" sem um senso da santidade de Deus pode levar à adoração insignificante ou casual. (Um senso de não compreensão do amor de Deus nem de sua santidade conduz a um culto de adoração que parece uma reunião de comitê). Mas o evangelho nos leva a ver que Deus é tanto transcendente como imanente. Sua imanência torna sua transcendência reconfortante, enquanto a sua transcendência faz a sua imanência incrível. O evangelho conduz ao temor e intimidade na adoração, porque o Santo é agora o nosso pai.

3. Abordagem acerca dos pobres. O liberal/pragmatista tende a desprezar a religião dos pobres e vê-los como vítimas indefesas que necessitam de habilidade. Isso nasce de uma descrença na graça comum de Deus ou graça especial para todos. Ironicamente, a mentalidade secular também não acredita em pecado, e assim quem é pobre deve ser oprimido, uma vítima desamparada. Os conservadores/moralistas, por outro lado, tendem a desprezar os pobres como falhos e fracos. Eles os veem de algum modo como culpados por sua situação. Mas o evangelho nos leva a ser: a) humilde, sem superioridade moral sabendo que eram "espiritualmente destituídos", porém salvos pela generosidade livre de Cristo, e b) gracioso, não está preocupado demais com "merecimento", uma vez que você não merecia a graça de Cristo, c) respeito pelos fiéis cristãos pobres como irmãos e irmãs de quem podemos aprender. O evangelho só pode trazer "trabalhadores intelectuais” em um senso de respeito humilde e solidariedade para com os pobres.

4. Abordagem acerca de distinções doutrinárias. O "já" do Novo Testamento significa mais ousadia na proclamação. Nós podemos definitivamente ter certeza das doutrinas centrais que sustentam o evangelho. Mas, o "ainda não" significa caridade e humildade em crenças não essenciais. Em outras palavras, devemos ser moderados sobre o que ensinar, exceto quando se refere à cruz, à graça e ao pecado. Em nossa visão, especialmente aquilo que os cristãos não podem concordar, devemos ser menos rígidos e triunfalistas ("crendo que temos chegado intelectualmente"). Significa também que nosso discernimento do chamado de Deus e sua "vontade" para nós e o outro não deve ser propagada com arrogante certeza de que sua visão não pode estar errada. Contra o pragmatismo, devemos estar dispostos a morrer por nossa crença no evangelho; contra o moralismo, não devemos lutar até a morte sobre cada uma das nossas crenças.

5. Abordagem acerca da santidade. O "já" significa que não devemos tolerar o pecado. A presença do reino inclui que somos feitos "participantes da natureza divina" (2 Pe 1.3). O evangelho nos traz a convicção de que qualquer um pode ser mudado, que qualquer hábito escravizante pode ser superado. Porém, o "ainda não" fala do pecado que permanece em nós e nunca será eliminado até que a plenitude do reino venha. Assim, devemos evitar respostas prontas, e não devemos esperar "soluções rápidas". Diferente dos moralistas, temos de ser pacientes com o crescimento lento ou as falhas e perceber a complexidade da mudança e crescimento na graça. Ao contrário dos pragmáticos e cínicos, devemos insistir que a mudança miraculosa é possível.

6. Abordagem acerca de milagres. O "já" do reino significa que o poder para milagres e curas está disponível. Jesus mostrou o reino, curando os doentes e ressuscitando os mortos. Porém, o "ainda não" significa que a natureza (inclusive nós) ainda está sujeita à decadência (Rm 8.22-23) e, assim, a doença e a morte ainda são inevitáveis, até a consumação final. Nós não podemos esperar que os milagres e a eliminação de sofrimento sejam uma parte normal da vida cristã, que a dor e o sofrimento serão eliminados da vida dos fiéis. Contra os moralistas, sabemos que Deus pode curar e fazer milagres. Versus pragmáticos, não temos o objetivo de pressionar Deus para eliminar o sofrimento.

7. Abordagem acerca da saúde da igreja. O "já" do reino significa que a Igreja é a comunidade atual do poder do reino. Portanto é capaz de transformar poderosamente sua comunidade. O evangelismo que acrescenta "diariamente o número daqueles que estão sendo salvos" (Atos 2.47) é possível! A comunhão amorosa que "destruiu... o muro de inimizade" entre diferentes raças e classes é possível! Porém, o "ainda não" do pecado significa que Jesus ainda não apresentou sua noiva, a igreja "como uma igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem qualquer outro defeito" (Ef 5.27). Não devemos, então, ser severamente crítico de congregações imperfeitas, nem pular impacientemente de igreja em igreja por causa dos defeitos percebidos. O erro nunca será completamente erradicado da igreja. O "ainda não" significa evitar o uso excessivamente severo da disciplina na igreja e outros meios para tentar trazer uma igreja perfeita hoje.

8. Abordagem acerca da mudança social. Não devemos esquecer que Cristo está agora mesmo governando em um sentido através da história (Ef 1.22ss). O "já" da graça significa que os cristãos podem esperar para usar o poder de Deus para mudar as condições sociais e comunidades. Porém, o "ainda não" do pecado significa que haverá "guerras e rumores de guerras". Crueldade, egoísmo, terrorismo, opressão continuarão. Os cristãos não nutrem ilusões sobre política, nem esperam condições utópicas. O "ainda não" significa que os cristãos não confiarão em qualquer agenda política ou social para trazer a justiça aqui na terra. Desse modo, o evangelho nos impede do pessimismo excessivo do fundamentalismo (moralismo) sobre a mudança social, e também do otimismo por causa o liberalismo (pragmatismo).

Sumário: Todos os problemas, pessoais ou sociais vêm de uma falha de usar o evangelho de uma forma radical, tornar-se "de acordo com a verdade do evangelho" (Gl 2.14). Todas as patologias na igreja e toda a sua ineficácia vêm de uma falha em usar o evangelho de uma forma radical. Acreditamos que se o evangelho for exposto e aplicado em sua plenitude em qualquer igreja, esta igreja vai ter um estilo único. As pessoas vão encontrar tanto convicção moral como compaixão e flexibilidade. Por exemplo, os gays costumam ser "esmagados" e odiados ou completamente aceitos. Eles nunca veem nada mais. As elites culturais de ambos os lados liberais ou conservadoras são iguais na sua falta de vontade de fazer amizade ou viver com ou respeitar ou adorar com os pobres. Eles são iguais em separar-se cada vez mais do resto da sociedade.

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* Tim Keller é pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Nova York (www.redeemer.com). O presente artigo foi traduzido por Robson Rosa Santana, do original em inglês The Centrality of the Gospel, acessado em 25 de jun. 2012. Disponível em: http://download.redeemer.com/pdf/learn/resources/Centrality_of_the_Gospel-Keller.pdf


13 de junho de 2012

O Pecado, a Cruz e a Missão

Texto Básico: 1 Coríntios 1.18-25

INTRODUÇÃO
Qual a diferença:
Mensagem do Evangelho X Mensagem pregada hoje? (especialmente nos cultos e programas de TV)

Como os judeus e gentios (gregos) viam a mensagem do Evangelho? (Lembrando que o mundo era dividido entre os judeus e gentios)
Judeus à escândalo e pedra de tropeço (23)
Gregos à loucura (23)
Por quê? Vejamos o v.22
No entanto, essa é a mensagem da Bíblia! Veja Gálatas 3.1 e 13
Por que o Evangelho é necessário ao ser humano?

1) A UNIVERSALIDADE DO PECADO
Rm 3.23: “todos pecaram e carecem da glória de Deus”.

2) O PECADO COMO ALGO NIVELADOR
Rm 3.19-20
Os judeus, que tinham alguma vantagem com relação a Deus, achavam-se superiores.
Todos precisam de salvação!
1 Jo 1.10.

3) A GRAVIDADE DO PECADO
“Sem a consciência do pecado não há evangelho. Somente o evangelho trata o pecado com seriedade”.
Como as religiões tratam o pecado?
Não basta pregarmos que Deus perdoa as pessoas, é preciso que elas entendam que são pecadoras e que precisam totalmente de Deus para serem salvas.

Na pregação há duas características básicas:
1. Arrependimento para com Deus (-)
2. Fé em Cristo (+)
Mc 1.14-15: “Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, 15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”.
At 20.21: “testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a em nosso Senhor Jesus Cristo”.
(Leia tb. Lc 24.47; At 5.31; 11.18).
É preciso compreender que quem nos convence do pecado, não somos nós mesmos:
Jo 16.8: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:” (cf. Rm 2.4).
“O homem natural sabe que é pecador, porém apenas com a intervenção do Espírito ele passa a se sentir perdido” (Ronaldo Lidório, Plantando Igrejas, p. 100).

4. A PERDA DA DIMENSÃO DA GRAVIDADE DO PECADO
4.1 A desconsideração do éramos e do que nos tornamos
O que éramos = imagem de Deus: (1) justiça, (2) santidade e (3) conhecimento verdadeiro de Deus.
Ef 4.23-24: “e vos renoveis no espírito do vosso entendimento (3), e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça (1) e retidão (2) procedentes da verdade”.
“O homem não simplesmente possui a imagem de Deus, como algo externo ou acessório, antes, ele é a própria imagem de Deus”.
E depois do pecado, o que nos tornamos?
“Após a queda, o seu conhecimento se tornou totalmente nulo quanto à salvação [v.20].”
Consequências: morte e escravidão (Ef 2.1; Jo 8.34).
“As coisas de Deus soam como loucura”
1 Co 2.14: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
4.2 A desconsideração da santidade de Deus revelada na cruz
A contemplação da glória de Deus realça sobremaneira o nosso pecado e nos leva a viver uma vida de santidade.
Exemplos:
Pedro: “prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8).
Paulo: “... Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15).
“Quanto mais perto uma pessoa de Deus, mais terrível deve ser visto o mínimo pecado” (Rees Howells).
4.3 A cruz realça a justiça de Deus e o seu invencível amor
Se Deus não fosse santo e justo, Ele não precisaria enviar Seu único Filho para levar sobre si os nossos pecados.
Devido à necessidade de que nossos delitos deveriam ser punidos, Jesus se tornou nosso substituto pagando a nossa pena.
Pv 17.15: “O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro”.
Em relação aos ímpios, Deus usa de justiça e condena. Mas em relação ao cristão verdadeiro, Ele usa de misericórdia, pois Jesus morreu em lugar.

CONCLUSÃO
“A mensagem da cruz, que confronta o ser humano com seu pecado e apresenta a gloriosa salvação no sacrifício de Cristo, deve ser anunciada pela igreja”.

APLICAÇÃO
Ao final desse estudo algumas aplicações ficam claras para nós:
1. Devemos ter consciência de nosso pecado e confessá-lo ao Senhor;
2. Devemos ser gratos a Deus pelo sacrifício de Cristo;
3. Devemos nos comprometer com pregação do evangelho.

Individualmente ou em grupo, o que temos feito para anunciar as boas novas de salvação?


* Lição 1 adaptada da Revista A MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS e também o final dos tempos. Currículo Cultura Cristã.