15 de setembro de 2011

COSMOVISÃO

OLTHUIS, James H. On Worldviews. In: Worldviews and Social Science. London: University Press, 1989.

RESUMO DE ARTIGO


James H. Olthuis inicia o artigo dizendo que as questões fundamentais acerca da vida estão profundamente arraigadas no coração humano. Quem sou? Para onde vou? Há deus? Como viver e morrer feliz? Todas as pessoas possuem respostas para estas ou algumas dessas perguntas existenciais e ao responder, se parcialmente ou implicitamente, isso constitui sua cosmovisão ou visão da vida.
São estas as questões que mais tocam a essência de uma sociedade. As respostas a essas perguntas, seja em caráter pessoal, regional ou tribal, societal ou até mesmo geral em relação ao mundo, não somente moldam o pensamento das pessoas, mas também as suas ações.
Segundo Olthuis há uma gama muito grande de divergências sobre o significado e função das cosmovisões. No Ocidente, uma cosmovisão, ou Weltanschauug, “tem sido geralmente tratada como um sistema de pensamento abrangente e unificado, suportando várias relações com filosofia” (Dilthey, Engels e Kierkegaard) (p.26-27); com as condições sócio-econômicas (Marx, Freud e Nietzsche); com a filosofia da linguagem (Wilhelm Von Humboldt, Heidegger, Gadamer e Benjamim Lee Whorf). Uma cosmovisão pode ainda ser relacionada com a ciência (modelo fisicista-empirista dominante); com a teologia e ainda com o surgimento do pensamento sociobiológico.
Como ele diz, “este caleidoscópio de abordagens modernas para cosmovisões dá o contexto e a ocasião para este paper. Meu objetivo é descrever a anatomia de uma cosmovisão: sua fonte, estrutura e função” (p.28).
Quanto à fonte de uma cosmovisão, Olthuis alerta para o reducionismo que diz que a fonte jaz na fé, ou pensamento, ou paixão, ou condições socioeconômicas. Para ele, todos os fatores da vida, como os aspectos biofísico, emocional, racional, socioeconômico, ético e “religioso”, de forma simultânea e interdependente, ou seja, o modelo multidimensional, formam uma cosmovisão de modo abrangente e ao mesmo tempo flexível.
Quanto à função, ele crê “que uma cosmovisão pode ser um meio de mediação e integração em um movimento de dois caminhos entre o compromisso de fé e todos os outros modelos da experiência humana” (p.28).
Uma cosmovisão é uma estrutura de crenças fundamentais que nos fazem ver o mundo, bem como nosso chamado e futuro nele. Ou seja, é um meio de canalizar nossas crenças básicas que nos dão direção e significado. Em outras palavras, uma cosmovisão determina como vemos a vida e o mundo (descritiva) e estipula o que devemos ser (normativa).
Como disse antes, a formação de uma cosmovisão envolve fé. Fé no sentido de viver para algo, pertencer a algum lugar, a busca do significado para a vida e a felicidade eterna. Nesse aspecto, ter fé é essencial para a vida. E nesse aspecto pode ser no Deus pessoal da Bíblia ou em qualquer outro falso deus. Ao mesmo tempo isso é perigoso com relação a onde ou a quem coloca-se a confiança. Pois se a fé prova-se fútil, a vida perde sentido. O autor cita Paul Tillich: “nossa questão última pode destruir-nos como pode curar-nos. Porém nunca podemos existir sem ela” (Dynamics of Faith, p.16).
Desse modo, uma cosmovisão provê respostas fundamentais para as questões últimas: Quem somos? Para onde estamos indo? O que devemos fazer? O que é o bem e que é o mal? Outhuis diz: “eu estou fazendo isso porque eu creio que esta é a natureza da vida e que minha felicidade última depende de agir de acordo com meu compromisso mais profundo e crenças mais elevadas” (p.31).
Além das percepções de fé, há o restante da nossa experiência de vida que moldam nossa cosmovisão. Ao mesmo tempo em que uma cosmovisão é uma visão de para a vida, ela também é moldada pela visão da vida para a fé. A formação de uma cosmovisão em uma tradição particular e dentro de um contexto psicossocial particular mostra que ela não é produto apenas de fé, mas de fé baseada em todas as outras dimensões da experiência humana.
Assim, Olthuis enfatiza que cosmovisões “são comunicadas não apenas por compromisso de fé, mas também pela tradição, condições socioeconômicas, instituições sociais, autoridades, ciência e educação, costumes, família e amigos, memória, experiência emocional, saúde físio-orgânica, desenvolvimento intelectual, temperamento volitivo, sexualidade, etc.” (p.33).
Quando surge uma lacuna entre uma cosmovisão e a experiência (realidade) estabelece-se a crise, frustração e tensão. Podendo atingir toda uma sociedade. É desse modo que uma cosmovisão está sempre em processo de formação. Se a nossa visão da vida vai de encontro a uma cosmovisão estabelecida, nos adequamos àquilo que consideramos a verdade. Segundo Olthuis, isso bloqueia de ser aberto à revelação de Deus porque crenças corretas e uma visão correta refletirá a ordem universal de Deus que nos fez para a vida. Olthuis finaliza o artigo fazendo uma integração entre fé e prática (modo de vida) que modelam uma cosmovisão, e chama a atenção dizendo que uma cosmovisão deve nos mover para a plenitude do ser, reconciliação e esperança.
Como o artigo foi escrito para o contexto maior do livro que é sobre “Cosmovisão e Ciência Social”, a contribuição de Olthuis foi definir cosmovisão (ou cosmovisões) em seus aspectos formativos, estruturais e funcionais, opinando de forma pessoal e rápida, por uma cosmovisão com fulcro da revelação de Deus.

Robson Rosa Santana
James Olthuis


James Olthuis, PhD (Free University, Amsterdam), B.D., (Calvin College), is professor of philosophical theology at the Institute for Christian Studies. Olthuis joined the ICS faculty in 1968. He concentrates on philosophical anthropology, hermeneutics, ethics and psychotherapy. He has published Facts, Values and Ethics: A Confrontation with Twentieth Century British Moral Philosophy; I Pledge You My Troth: A Christian View of Marriage, Family and Friendship; Keeping Our Troth; A Hermeneutics of Ultimacy: Peril or Promise; and The Beautiful Risk: A New Psychology of Loving and Being Loved. He is the editor of Knowing Other-wise, Towards an Ethics of Community, and Religion With/out Religion. Olthuis has a long list of scholarly articles, popular articles and book chapters on a variety of subjects, especially philosophical anthropology, postmodern philosophy, hermeneutics and psychotherapy.

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