7 de outubro de 2009

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS (MILÊNIO) - Ap 20.1-10



O Livro de Apocalipse baseia-se no discurso de Cristo sobre as coisas do por vir. Está cheio de expressões empregadas por Jesus e tira muitas de suas figuras de Ezequiel e Daniel.

É um livro de símbolos e figuras, e constantemente causa assombro.

Por exemplo, a primeira visão de Cristo é a de alguém andando com cabelos brancos, olhos de fogo, cinto de ouro, sua língua como a de uma faca de dois gumes afiada.

Depois, ele é o Leão da tribo de Judá, depois um cordeiro. Isso só com relação a Cristo. Existem várias outras imagens, bem como sons, coros, vozes e músicas.

É um livro de guerras, mas a guerra sempre termina em paz. A palavra guerra ocorre nove vezes em Apocalipse, e apenas sete vezes em todo o restante do Novo Testamento.

É um livro de trovões e terremotos, mas eles desaparecem e são seguidos por liturgias e salmos.

É um livro de recompensas aos justos. Isso pode ser visto nas cartas às sete igrejas e nas vitórias dos justos em todos os conflitos e guerras do livro.

Portanto, é um livro de otimismo. Em toda a parte Deus vence Satanás, o cordeiro triunfa, a Babilônia perece, etc.

O propósito do livro foi confortar os cristãos do primeiro século que sofriam violentas perseguições e de confortar os cristãos de todos os tempos. A visão do Cristo triunfante sobre as perseguições e a morte, reinando do céu, é uma garantia certa do triunfo de todos os crentes na terra e no céu. O livro inspira gratidão, confiança e esperança aos perseguidos de todas as épocas.

Existe praticamente unanimidade sobre a extensão do tempo quando os acontecimentos das visões deverão cumprir-se. É a extensão do tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Só não há unanimidade sobre os momentos em que exatamente acontecerão.

O melhor, porém, é compreender a estrutura do livro como composta por sete seções paralelas. Ou Sete painéis,

Cada seção representa todo o tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Cap 1-3 = Cristo ressurreto e glorificado andando no meio dos sete candeeiros de outro, dirigindo-se às 7 igrejas da Ásia. Claramente forma uma unidade.

Cap 4-7 = João tem a visão dos sete selos. Nesta visão vemos a igreja passando por provações e perseguições, tendo como pano de fundo a vitória de Cristo.

Cap 8-11 = descreve as sete trombetas de julgamento. Vê-se a igreja vingada, protegida e vitoriosa.

Cap 12-14 = visão da mulher dando à luz um filho, Jesus Cristo, e tentativa de devorá-lo por parte de satanás. E continua falando da oposição de Satanás, por meio das duas bestas.

Cap 15 e 16 = descreve as sete taças da ira de Deus, isso demonstra a forma como Deus visitará os impenitentes no juízo final.

Cap 17-19 = descreve a queda da Babilônia e das bestas.

Cap 20-22 = narra o fim do dragão, que é Satanás, e assim finaliza a derrota dos inimigos de Cristo. Além disso, descreve o juízo, o triunfo final de Cristo e sua Igreja e o universo restaurado, os novos céus e nova terra.

Além do paralelismo que existem entre essas secções, há também uma nítida progressão, por isso pode-se dizer que Apocalipse tem o método de interpretação chamado paralelismo progressivo.

As seções encaram esse período sob diversos enfoques. Assim as seções das trombetas, das taças da ira, da luta entre a mulher e o dragão, da prisão de Satanás no cap. 20, etc., correm paralelas e todas terminam com o juízo final. A extensão do tempo, expressa por diversas medidas: 42 meses, 1260 dias, um tempo, tempos e metade de tempo, é a mesma. Segundo Hendriksen, “nas seções ainda ocorre um clima ascendente do ponto de vista escatológico. O juízo final é primeiro anunciado, depois introduzido e finalmente descrito. O novo céu e a nova terra são descritos mais plenamente na seção final do que nas seções precedentes”.

É consenso que o livro foi escrito pelo apóstolo João, em cerca de 95 d.C., época de grande perseguição sofrida pelo imperador Domiciano.

O Livro de Apocalipse é com certeza um livro misterioso, por usar uma linguagem cheia de símbolos. Devemos entender o momento histórico em que ele foi escrito, para podermos entendê-lo melhor. A linguagem cheia de símbolos utilizada pelo escritor era de fácil compreensão para os cristãos daquela época, eles conheciam os códigos, já para os gentios era impossível saber ao certo do que tratava o livro.

O texto que ora acabamos de ler, encontra-se na última secção do livro. E assim, como as outras secções, retrata um período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Todo o livro fala da confiança e esperança que os crentes devem ter no Cristo que reina e obterá vitória final sobre todos os seus inimigos.

Em face disso, gostaria de falar sobre:

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS

1. O Aprisionamento de Satanás

Apocalipse 20:1 Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente.

2 Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos;

3 lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.

O Ap fala de vários espaços de tempo, tais como 1260 dias, 42 meses, 1 tempo, tempos e metade de um tempo, bem assim, 1000 anos, é um tempo simbólico. Um texto que pode clarear isso é 2 Pe 3:8 quando o apóstolo argüiu que: “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”.

Esse texto nos ajuda a lembrar que o relógio de Deus não corre pelo nosso e que tempos, estações e programas estão com Ele.

O livro foi escrito para confortar os santos, e, não, para gerar discussão entre eles.

No entanto, é preciso ressaltar que existem 4 posições quanto ao Milênio:

Pré-milenismo dispensacionalista

Pré-milenismo histórico

Pós-milenismo

Amilenismo

O primeiro é o mais difundido no meio evangélico, talvez 90% dos cristãos são, de alguma forma, adeptos dessa corrente. Têm como princípio a interpretação literal. Por exemplo, os batistas e quase todos os pentecostais são pré-milenistas dispensacionalistas, ou seja, crêem num reino literal de mil anos de Cristo antes do juízo final.

Não posso expor todos os princípios dessa corrente, mas eles fazem separação entre Reino e Igreja. Cristo veio para estabelecer o reino messiânico e foi rejeitado, logo, não reinou, segundo eles. Por isso, ele precisa voltar novamente para reinar. Desse modo, eles transferem o Reino para o futuro, e diz que a fundação da Igreja é como um parêntese até que o Reino seja estabelecido, mas eles esquecem que o próprio Jesus rejeitou o reinado terreno, ver João 6:15 Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. João 19:36 está escrito: Respondeu Jesus (a Pilatos): O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

O Reino de Cristo é espiritual, vejamos a interpretação de Pedro acerca daquele reinaria no trono de Davi: Atos 2.30, 31: Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.

Desse modo, é incontestável que Cristo já está reinando nos céus, à destra do Pai.

Deve-se entender que Cristo está reinando durante o milênio que já está se realizando, ou seja, no período entre a sua primeira e segunda vinda.

Além do mais, se formos olhar a ordem dos fatos no texto de Ap. 20, veremos que a ordem é a seguinte: milênio, pouco tempo de satanás, segunda vinda, ressurreição de todos os mortos e juízo final.

Essa é a ordem que está na Bíblia e esta ordem demonstra que Cristo virá depois do milênio, não antes do milênio, nem para iniciar o milênio.

Quanto à prisão de Satanás, é preciso entender que não significa uma restrição total da obra satânica. A linguagem é simbólica: corrente, abismo, prisão. No entanto, quer dizer que ele foi amarrado de alguma forma, não o sabemos como, mas foi.

Esse aprisionamento de Satanás começou quando Cristo o venceu na tentação do deserto, e continuou quando Ele começou a expulsar os demônios, por isso Ele disse: Mt 12:28: Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. 29 Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa.

Ver também Jo 12.31, 32.

Segundo Hendriksen, a prisão de Satanás e o fato de que ele é lançado no abismo por mil anos indicam que durante esta presente era evangélica a influência do diabo é cerceada. Ele é incapaz de impedir a expansão da Igreja entre as nações por meio de um programa missionário ativo. Ao longo desse período ele é impedido de incitar as nações – o mundo em geral – a destruir a Igreja como instituição missionária poderosa. Mediante a pregação da Palavra aplicada pelo Espírito Santo, os eleitos, de todas as partes do mundo, são levados das trevas para a luz.

Depois desse período de restrição, ele será solto por um breve tempo.

2. O Reinado dos Santos com Cristo

4 Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram (e;zhsan) e reinaram com Cristo durante mil anos.

5 Os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan, v.4) até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.

6 Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes (Ap 1.6) de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.

Mil anos do v.3 e v.4 são concomitantes. Ver tb v.6. “os mil anos”

Depois da visão da prisão de Satanás, João vê tronos e aqueles que reinam com Cristo: “autoridade para julgar”; “almas dos decapitados” (perseguição da época); “não adoraram a besta...” ou seja, a totalidade dos crentes que morreram. Mas estão vivos com Cristo, já estão desfrutando da benção com Jesus em seu estado intermediário. Viveram (ezesan) retrata essa vida, vem do verbo zao, subst. Zoe – vida (eterna) Jo 3.16. Normalmente, João no Evangelho, quando quer falar de vida eterna ele usa zoe.

Além do mais o texto fala das “almas dos decapitados”, a psique. E não os corpos deles, o que aconteceria com uma ressurreição do corpo. João diz que viu “as almas”, não viu os “os corpos” dos mártires. Se o significado óbvio dessa passagem for o significado correto; se ele viu as “almas” dos mártires, não os “corpos”, isso pareceria excluir a noção de uma ressurreição literal, e, como conseqüência lógica, derrubaria muita das teorias de uma ressurreição literal e de um reino dos santos durante os mil anos do milênio.

Vemos também que depois do pouco tempo que restou para Satanás seduzir as nações, fala da ressurreição geral v.12-15 e um julgamento geral também, os crentes entram no novo céu e nova terra, enquanto os impenitentes irão para o lago de fogo e enxofre, essa é a segunda morte.

Aqui retrata a vida eterna que o crente já desfruta quando crer em Cristo, e continua depois da morte física, até a sua segunda vinda, quando os corpos serão ressuscitados.

Paulo diz acerca do depois da morte: Fp 1:23 Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.

V.5 diz que os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan - viveram), continuam mortos em seus delitos, separados de Deus. Essa é a primeira morte. Contrastada com a segunda morte do verso 6.

Em Ap 1.6 diz ele Jesus nos constituiu reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai... Na terra já fazemos parte do seu reino e também somos sacerdotes. No céu, depois da morte do crente, reinaremos com ele e continuaremos a servir a Deus de forma mais plena, ainda que não totalmente plena, uma vez a plenitude do sacerdócio acontecerá quando formos ressuscitados em nossos corpos.

3. O Triunfo Final de Cristo sobre seus Inimigos

7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão

8 e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar.

9 Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu.

10 O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.

O texto nos diz que Satanás será solto para seduzir as nações por pouco tempo. Ele bem sabe que seu destino está predito e assim acontecerá. Ele fará tudo aquilo que Deus nos avisou por intermédio de João. Como diz Martinho Lutero, “O Diabo é o Diabo de Deus”.

Ele será solto, mas seu intento será frustrado. Ele é um derrotado insistente. Ele é como aqueles rebeldes chechenos que tentaram se rebelar contra o governo russo, mas foram totalmente aniquilados. A vitória do Senhor é certa. Satanás nunca foi obstáculo para os planos do Senhor. É como a guerra dos Estados Unidos contra o desfacelado Afeganistão. Só que com uma diferença, enquanto as guerras terrenas envolvem muitas injustiças e situações excusas, a guerra de Deus é santa e justa. Ele está irado contra toda impiedade e injustiça, e um dia Ele porá um fim a tudo isso.

Ele enviará fogo do céu e porá o diabo, as bestas, os seus demônios e todos os pecadores impenitentes no lugar que lhes cabe, ou seja, o lago de fogo e enxofre. O juízo é severo, no entanto ressalta o quanto Deus é insultado em seu governo e santidade. O juízo é na mesma medida do ultraje que lhes fazem.

Conclusão

1ª) mesmo em face das maiores tribulações e sofrimentos por causa do nome de Cristo, nunca podemos esmorecer, uma vez que Ele reina e promete glórias indizíveis para aquele que permanecer fiel e perseverante. Esse foi o propósito primeiro de Cristo ter deixado para os cristãos do final do primeiro século, essas revelações acerca da sua vitória, bem como da igreja, sobre todos os seus e nossos inimigos.

2ª) Jesus deixa um alerta para que ela esteja atenta e vigilante. Não devemos esperar como se Jesus não viesse. Ele está às portas, em breve voltará. A Igreja deve continuar seu processo de santificação, através da vida individual de cada crente. Pois João escreveu em 22.11: continue o justo fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.

A vitória de Cristo é certa, não importa qual situação você esteja vivendo, Ele está reinando com os que partiram nele, essa é bendita esperança da Igreja!