25 de novembro de 2009

Vida cristã: uma maratona de fé (Hb 12.1-3)

Introdução
Uma das imagens mais impressionantes de obstinação, desejo de chegar ao final da disputa, foi numa olimpíada em que uma mulher corria na maratona (42 km). Ela já estava quase totalmente exausta, quase sem força, capengando, exigindo o máximo da energia de seu corpo, e cambaleando chega até o final da corrida.


Eu mesmo nem sei quem venceu a corrida, pois aquela mulher roubou a cena e serviu de modelo de persistência e perseverança. Tinha um alvo, objetivo, a alcançar e se esforçou o máximo para chegar lá. Chegou. Completou a carreira!

A Bíblia mostra muitas ilustrações do que é a vida cristã:
Uma caminhada: Jesus é o Caminho, só alcançaremos a salvação se andarmos no caminho estreito. O próprio cristianismo no início era chamado de O Caminho. E Pedro nos chama de peregrinos.


Uma guerra, combate, luta: não lutamos contra o homem em si, mas contra os espíritos malignos que nos tentam, usam pessoas e que tem a finalidade de mentir, roubar, matar e destruir. Por isso devemos estar revestidos da armadura espiritual que vem de Deus.


Uma corrida, carreira, maratona: Paulo até usa duas ilustrações no mesmo verso: “combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7).


NarrativaO autor de Hebreus, no texto lido, fala que estamos numa corrida: na Maratona da Fé. Antes já havia dito que “sem fé é impossível agradar a Deus” (11.6). Aqui não é simplesmente a fé salvadora em Cristo Jesus. Mas a fé de ultrapassar todos os obstáculos que estiverem à nossa frente e chegarmos ao final da corrida.

Pois isso o texto diz: “temos a rodear-nos de tão grande nuvem de testemunhas”: Abel, Enoque, Noé, Abraão (o pai da fé), Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, e tantos outros, como os juízes e profetas, que pela fé no Deus todo-poderoso, dependeram exclusivamente de Suas promessas e venceram tudo que estava tentando atrapalhar a sua caminhada rumo a Deus e ao céu.


O verso 1 fala do grande serviço que a Bíblia (Deus) exige dos Hebreus e que ele deseja muito que eles possam cumprir na maratona da fé, da seguinte forma:
"desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta".


Isso consiste de 2 partes: (1) Preparação e (2) Aperfeiçoamento


1) Preparação

Como o crente se prepara para a corrida da vida cristã?
“desembaraçando-nos de todo peso”(deixar de lado todo o peso), assim como um corredor usa roupas bem leves e coladas ao corpo para facilitar a corrida.


Ex.: nadadores, depilam os pelos do corpo para ficar mais lisos, alguns até usam uma roupa de pele de tubarão para deslizar melhor e ganhar alguns milésimos de segundo.

Assim também nós, cristãos, na nossa corrida cristã, devemos tirar todo o peso das nossas vidas.


Que peso é esse? São todos os impulsos e desejos pecaminosos do nosso corpo. É nos separar dos cuidados pelas coisas dessa vida e das coisas do mundo; que só geram ansiedade e nos deixam paralisados nas coisas do reino de Deus. Às vezes estamos tão preocupados com as coisas terrenas e carnais que não conseguimos buscar a Deus, nem muito menos servi-lo.

Calvino: “Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja: o apego a esta presente vida, os deleites do mundo, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e honras, bem como outras coisas desse gênero”.
“do pecado que tenazmente nos assedia”O verso ainda diz que devemos nos desembaraçar do pecado. Pecado aqui nos fala da nossa natureza pecaminosa. O maior empecilho para que vivamos uma vida de adoração, de comunhão com Deus, de serviço na sua obra, quer seja evangelizar, visitar, aconselhar ou ajudar os irmãos, é o empecilho do pecado que habita em nós. (Leia Romanos 7.17-23)

Como nos livrar ou diminuir a ação do pecado em nós? Se enchendo do Espírito (Gl 5.16-17). Estamos numa luta constante e como diz o Hb 12.4: “Na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até o sangue”.
O pecado tenazmente nos assedia (nos atrai), que nos envolve, que está ao nosso redor.
“Como um animal selvagem à noite que fica às escondidas esperando o melhor momento para atacar suas vítimas descuidadas” (Paráfrase de Robertson).

Devemos ficar mais atentos do que com relação ao Diabo. Ele também faz esse cerco com relação ao crente, mas o pecado está dentro de nós. Requer mais vigilância.
Alguns pecados que nunca conseguimos vencer nos deixam sem a capacitação e a autoridade para fazer a obra de Deus. Meditemos nisso.


Resumo: A primeira parte com relação à nossa corrida é essa: a preparação: tirar tudo aquilo que nos atrapalha, que nos amarra, que impede que corramos livremente: (a) os pesos da vida e do mundo; e (b) a natureza pecaminosa que está em nós, por isso devemos lutar contra ela nos enchendo do Espírito Santo de Deus.

2) Aperfeiçoamento 

Os cristãos têm uma corrida a correr, uma corrida de serviços e sofrimentos, ou seja, uma obediência ativa e passiva. Esta corrida (carreira) nos está proposta; foi marcada para nós por meio da Palavra de Deus e pelos exemplos dos servos do passado que foram fiéis a Deus. Tudo aquilo que precisamos para a nossa maratona cristã foi preparada por Deus.


Esta corrida deve ser com paciência e perseverança. Pois haverá a necessidade de paciência para enfrentar as dificuldades que surgem pelo caminho e de perseverança para resistir à tentação de desistir ou deixar tudo de lado. Devemos cultivar e guardar a fé e a paciência, que são graças de Deus para nós.

Os crentes têm um exemplo maior do que todos os heróis da fé que foram citados no capítulo 11, que é o Senhor Jesus Cristo. “Ohando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (v.2).Jesus é aquele que gerou a fé em nós. É Ele o que a aperfeiçoa e também o recompensador daquilo que Ele mesmo nos deu.

Como maior exemplo para que continuemos a nossa carreira, corrida ou maratona cristã, é preciso que observemos que Cristo também é nosso exemplo de uma pessoa que ultrapassou todas as tentações que vieram ao seu encontro:


v.2: “suportou a cruz” – chegou a pedir, se possível fosse, que passasse dele o cálice da ira de Deus sobre a sua vida. Ele suportou os pregos, a dor, a vergonha, a zombaria, a morte maldita, como um transgressor, um malfeitor vil. Tudo isso Ele suportou firme, com paciência e obstinação.


v.2: “não fazendo caso da ignomínia” (“desprezando a vergonha” – NVI) – mesmo sendo Deus, o Filho se humilhou, recebeu a oposição dos homens na vida e na morte, mas tudo isso Ele não fez caso por causa de seu amor pela igreja; Ele desprezou o desprezo que fizeram com Ele.

v.3: “suportou tamanha oposição dos pecadores” (especialmente os líderes judaicos).

Devemos olhar para Jesus como nosso exemplo maior de obediência a Deus, tanto em obedecer aos mandamentos do Pai, como de obedecer enquanto sofria a rejeição de seu próprio povo.

Devemos estar com os olhos fixos em Jesus, especialmente quando sabemos que Ele fez isso voluntariamente, pois ele troca a alegria, um estado de glória maravilhoso que fazia parte de seu estado original antes de vir à terra (“em troca da alegria que lhe estava proposta” [v.2]).
Fez tudo para reconciliar o pecador com o Criador. E Ele recebeu a recompensa pelos seus sofrimentos: “assentou-se à direita do trono de Deus” (v.2). E de lá ainda intercede por nós (Hb 7.25).

Resumo: nos preparamos para a corrida olhando para os heróis da fé do passado. Como se eles estivessem na arquibancada de um estádio e nós estivéssemos na pista de corrida. E eles não são apenas expectadores, é como se eles torcessem por nós (eu vivi pela fé, você consegue também chegar até o final. Vamos lá. Desânimo jamais!).


Conclusão
Devemos correr com paciência e perseverança, com determinação, com animo e fé, a nossa maratona cristã. Como diz o texto:


v.2: “olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé”. Os nossos olhos devem estar fixos em Jesus; exemplo de tudo para nós. Por isso não temos desculpas por abandonarmos a nossa corrida por qualquer motivo ou pessoa. É desculpa que não vai ser aceita no dia do juízo.

O próprio Jesus está na linha de chegada dizendo, “olhem para mim. Olhem para tudo o que eu suportei, as tentações, as calúnias, as blasfêmias, a dor; tudo isso foi por vocês. No mundo vocês passam por aflições e dificuldades, mas tenham ânimo, eu venci e vocês também vencerão. Só basta não desistir!”
v.3: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma”. NVI: “Pensem bem”. Ou seja, medite em tudo que Cristo sofreu. Como disse Pedro, devemos seguir os passos de Jesus também quando vêm os sofrimentos (1Pe 2.21).

João Calvino: “A súmula de tudo isso, pois, é que nos encontramos engajados num torneio, o qual se desenvolve no mais famoso dos estádios, no qual se acha presente a rodear-nos uma grande multidão de espectadores e onde o Filho de Deus preside, incitando-nos a conquistar o prêmio. Portanto, seria uma inominável desgraça pararmos cansados ou sermos dominados pela indolência bem ao meio do percurso”.


Pr. Robson Rosa Santana


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Pesquisa:
Matthew Henry, Commentary on Hebrews.
Joao Calvino, Hebreus
Robertson, Word Pictures (BibleWorks).

7 de outubro de 2009

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS (MILÊNIO) - Ap 20.1-10



O Livro de Apocalipse baseia-se no discurso de Cristo sobre as coisas do por vir. Está cheio de expressões empregadas por Jesus e tira muitas de suas figuras de Ezequiel e Daniel.

É um livro de símbolos e figuras, e constantemente causa assombro.

Por exemplo, a primeira visão de Cristo é a de alguém andando com cabelos brancos, olhos de fogo, cinto de ouro, sua língua como a de uma faca de dois gumes afiada.

Depois, ele é o Leão da tribo de Judá, depois um cordeiro. Isso só com relação a Cristo. Existem várias outras imagens, bem como sons, coros, vozes e músicas.

É um livro de guerras, mas a guerra sempre termina em paz. A palavra guerra ocorre nove vezes em Apocalipse, e apenas sete vezes em todo o restante do Novo Testamento.

É um livro de trovões e terremotos, mas eles desaparecem e são seguidos por liturgias e salmos.

É um livro de recompensas aos justos. Isso pode ser visto nas cartas às sete igrejas e nas vitórias dos justos em todos os conflitos e guerras do livro.

Portanto, é um livro de otimismo. Em toda a parte Deus vence Satanás, o cordeiro triunfa, a Babilônia perece, etc.

O propósito do livro foi confortar os cristãos do primeiro século que sofriam violentas perseguições e de confortar os cristãos de todos os tempos. A visão do Cristo triunfante sobre as perseguições e a morte, reinando do céu, é uma garantia certa do triunfo de todos os crentes na terra e no céu. O livro inspira gratidão, confiança e esperança aos perseguidos de todas as épocas.

Existe praticamente unanimidade sobre a extensão do tempo quando os acontecimentos das visões deverão cumprir-se. É a extensão do tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Só não há unanimidade sobre os momentos em que exatamente acontecerão.

O melhor, porém, é compreender a estrutura do livro como composta por sete seções paralelas. Ou Sete painéis,

Cada seção representa todo o tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Cap 1-3 = Cristo ressurreto e glorificado andando no meio dos sete candeeiros de outro, dirigindo-se às 7 igrejas da Ásia. Claramente forma uma unidade.

Cap 4-7 = João tem a visão dos sete selos. Nesta visão vemos a igreja passando por provações e perseguições, tendo como pano de fundo a vitória de Cristo.

Cap 8-11 = descreve as sete trombetas de julgamento. Vê-se a igreja vingada, protegida e vitoriosa.

Cap 12-14 = visão da mulher dando à luz um filho, Jesus Cristo, e tentativa de devorá-lo por parte de satanás. E continua falando da oposição de Satanás, por meio das duas bestas.

Cap 15 e 16 = descreve as sete taças da ira de Deus, isso demonstra a forma como Deus visitará os impenitentes no juízo final.

Cap 17-19 = descreve a queda da Babilônia e das bestas.

Cap 20-22 = narra o fim do dragão, que é Satanás, e assim finaliza a derrota dos inimigos de Cristo. Além disso, descreve o juízo, o triunfo final de Cristo e sua Igreja e o universo restaurado, os novos céus e nova terra.

Além do paralelismo que existem entre essas secções, há também uma nítida progressão, por isso pode-se dizer que Apocalipse tem o método de interpretação chamado paralelismo progressivo.

As seções encaram esse período sob diversos enfoques. Assim as seções das trombetas, das taças da ira, da luta entre a mulher e o dragão, da prisão de Satanás no cap. 20, etc., correm paralelas e todas terminam com o juízo final. A extensão do tempo, expressa por diversas medidas: 42 meses, 1260 dias, um tempo, tempos e metade de tempo, é a mesma. Segundo Hendriksen, “nas seções ainda ocorre um clima ascendente do ponto de vista escatológico. O juízo final é primeiro anunciado, depois introduzido e finalmente descrito. O novo céu e a nova terra são descritos mais plenamente na seção final do que nas seções precedentes”.

É consenso que o livro foi escrito pelo apóstolo João, em cerca de 95 d.C., época de grande perseguição sofrida pelo imperador Domiciano.

O Livro de Apocalipse é com certeza um livro misterioso, por usar uma linguagem cheia de símbolos. Devemos entender o momento histórico em que ele foi escrito, para podermos entendê-lo melhor. A linguagem cheia de símbolos utilizada pelo escritor era de fácil compreensão para os cristãos daquela época, eles conheciam os códigos, já para os gentios era impossível saber ao certo do que tratava o livro.

O texto que ora acabamos de ler, encontra-se na última secção do livro. E assim, como as outras secções, retrata um período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Todo o livro fala da confiança e esperança que os crentes devem ter no Cristo que reina e obterá vitória final sobre todos os seus inimigos.

Em face disso, gostaria de falar sobre:

O TRIUNFO DO PROPÓSITO REDENTOR DE DEUS

1. O Aprisionamento de Satanás

Apocalipse 20:1 Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente.

2 Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos;

3 lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.

O Ap fala de vários espaços de tempo, tais como 1260 dias, 42 meses, 1 tempo, tempos e metade de um tempo, bem assim, 1000 anos, é um tempo simbólico. Um texto que pode clarear isso é 2 Pe 3:8 quando o apóstolo argüiu que: “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”.

Esse texto nos ajuda a lembrar que o relógio de Deus não corre pelo nosso e que tempos, estações e programas estão com Ele.

O livro foi escrito para confortar os santos, e, não, para gerar discussão entre eles.

No entanto, é preciso ressaltar que existem 4 posições quanto ao Milênio:

Pré-milenismo dispensacionalista

Pré-milenismo histórico

Pós-milenismo

Amilenismo

O primeiro é o mais difundido no meio evangélico, talvez 90% dos cristãos são, de alguma forma, adeptos dessa corrente. Têm como princípio a interpretação literal. Por exemplo, os batistas e quase todos os pentecostais são pré-milenistas dispensacionalistas, ou seja, crêem num reino literal de mil anos de Cristo antes do juízo final.

Não posso expor todos os princípios dessa corrente, mas eles fazem separação entre Reino e Igreja. Cristo veio para estabelecer o reino messiânico e foi rejeitado, logo, não reinou, segundo eles. Por isso, ele precisa voltar novamente para reinar. Desse modo, eles transferem o Reino para o futuro, e diz que a fundação da Igreja é como um parêntese até que o Reino seja estabelecido, mas eles esquecem que o próprio Jesus rejeitou o reinado terreno, ver João 6:15 Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. João 19:36 está escrito: Respondeu Jesus (a Pilatos): O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

O Reino de Cristo é espiritual, vejamos a interpretação de Pedro acerca daquele reinaria no trono de Davi: Atos 2.30, 31: Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.

Desse modo, é incontestável que Cristo já está reinando nos céus, à destra do Pai.

Deve-se entender que Cristo está reinando durante o milênio que já está se realizando, ou seja, no período entre a sua primeira e segunda vinda.

Além do mais, se formos olhar a ordem dos fatos no texto de Ap. 20, veremos que a ordem é a seguinte: milênio, pouco tempo de satanás, segunda vinda, ressurreição de todos os mortos e juízo final.

Essa é a ordem que está na Bíblia e esta ordem demonstra que Cristo virá depois do milênio, não antes do milênio, nem para iniciar o milênio.

Quanto à prisão de Satanás, é preciso entender que não significa uma restrição total da obra satânica. A linguagem é simbólica: corrente, abismo, prisão. No entanto, quer dizer que ele foi amarrado de alguma forma, não o sabemos como, mas foi.

Esse aprisionamento de Satanás começou quando Cristo o venceu na tentação do deserto, e continuou quando Ele começou a expulsar os demônios, por isso Ele disse: Mt 12:28: Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. 29 Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa.

Ver também Jo 12.31, 32.

Segundo Hendriksen, a prisão de Satanás e o fato de que ele é lançado no abismo por mil anos indicam que durante esta presente era evangélica a influência do diabo é cerceada. Ele é incapaz de impedir a expansão da Igreja entre as nações por meio de um programa missionário ativo. Ao longo desse período ele é impedido de incitar as nações – o mundo em geral – a destruir a Igreja como instituição missionária poderosa. Mediante a pregação da Palavra aplicada pelo Espírito Santo, os eleitos, de todas as partes do mundo, são levados das trevas para a luz.

Depois desse período de restrição, ele será solto por um breve tempo.

2. O Reinado dos Santos com Cristo

4 Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram (e;zhsan) e reinaram com Cristo durante mil anos.

5 Os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan, v.4) até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.

6 Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes (Ap 1.6) de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.

Mil anos do v.3 e v.4 são concomitantes. Ver tb v.6. “os mil anos”

Depois da visão da prisão de Satanás, João vê tronos e aqueles que reinam com Cristo: “autoridade para julgar”; “almas dos decapitados” (perseguição da época); “não adoraram a besta...” ou seja, a totalidade dos crentes que morreram. Mas estão vivos com Cristo, já estão desfrutando da benção com Jesus em seu estado intermediário. Viveram (ezesan) retrata essa vida, vem do verbo zao, subst. Zoe – vida (eterna) Jo 3.16. Normalmente, João no Evangelho, quando quer falar de vida eterna ele usa zoe.

Além do mais o texto fala das “almas dos decapitados”, a psique. E não os corpos deles, o que aconteceria com uma ressurreição do corpo. João diz que viu “as almas”, não viu os “os corpos” dos mártires. Se o significado óbvio dessa passagem for o significado correto; se ele viu as “almas” dos mártires, não os “corpos”, isso pareceria excluir a noção de uma ressurreição literal, e, como conseqüência lógica, derrubaria muita das teorias de uma ressurreição literal e de um reino dos santos durante os mil anos do milênio.

Vemos também que depois do pouco tempo que restou para Satanás seduzir as nações, fala da ressurreição geral v.12-15 e um julgamento geral também, os crentes entram no novo céu e nova terra, enquanto os impenitentes irão para o lago de fogo e enxofre, essa é a segunda morte.

Aqui retrata a vida eterna que o crente já desfruta quando crer em Cristo, e continua depois da morte física, até a sua segunda vinda, quando os corpos serão ressuscitados.

Paulo diz acerca do depois da morte: Fp 1:23 Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.

V.5 diz que os restantes dos mortos não reviveram (e;zhsan - viveram), continuam mortos em seus delitos, separados de Deus. Essa é a primeira morte. Contrastada com a segunda morte do verso 6.

Em Ap 1.6 diz ele Jesus nos constituiu reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai... Na terra já fazemos parte do seu reino e também somos sacerdotes. No céu, depois da morte do crente, reinaremos com ele e continuaremos a servir a Deus de forma mais plena, ainda que não totalmente plena, uma vez a plenitude do sacerdócio acontecerá quando formos ressuscitados em nossos corpos.

3. O Triunfo Final de Cristo sobre seus Inimigos

7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão

8 e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar.

9 Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu.

10 O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.

O texto nos diz que Satanás será solto para seduzir as nações por pouco tempo. Ele bem sabe que seu destino está predito e assim acontecerá. Ele fará tudo aquilo que Deus nos avisou por intermédio de João. Como diz Martinho Lutero, “O Diabo é o Diabo de Deus”.

Ele será solto, mas seu intento será frustrado. Ele é um derrotado insistente. Ele é como aqueles rebeldes chechenos que tentaram se rebelar contra o governo russo, mas foram totalmente aniquilados. A vitória do Senhor é certa. Satanás nunca foi obstáculo para os planos do Senhor. É como a guerra dos Estados Unidos contra o desfacelado Afeganistão. Só que com uma diferença, enquanto as guerras terrenas envolvem muitas injustiças e situações excusas, a guerra de Deus é santa e justa. Ele está irado contra toda impiedade e injustiça, e um dia Ele porá um fim a tudo isso.

Ele enviará fogo do céu e porá o diabo, as bestas, os seus demônios e todos os pecadores impenitentes no lugar que lhes cabe, ou seja, o lago de fogo e enxofre. O juízo é severo, no entanto ressalta o quanto Deus é insultado em seu governo e santidade. O juízo é na mesma medida do ultraje que lhes fazem.

Conclusão

1ª) mesmo em face das maiores tribulações e sofrimentos por causa do nome de Cristo, nunca podemos esmorecer, uma vez que Ele reina e promete glórias indizíveis para aquele que permanecer fiel e perseverante. Esse foi o propósito primeiro de Cristo ter deixado para os cristãos do final do primeiro século, essas revelações acerca da sua vitória, bem como da igreja, sobre todos os seus e nossos inimigos.

2ª) Jesus deixa um alerta para que ela esteja atenta e vigilante. Não devemos esperar como se Jesus não viesse. Ele está às portas, em breve voltará. A Igreja deve continuar seu processo de santificação, através da vida individual de cada crente. Pois João escreveu em 22.11: continue o justo fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.

A vitória de Cristo é certa, não importa qual situação você esteja vivendo, Ele está reinando com os que partiram nele, essa é bendita esperança da Igreja!


23 de setembro de 2009

HERESIAS NA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA

INTRODUÇÃO
O nosso propósito com esse estudo é mostrar algumas Heresias na Igreja Evangélica Brasileira, bem como o ensino bíblico correto. Falo algumas porque seria muito difícil enumerar e avaliar todas as nuanças dos ensinos heréticos dentro da Igreja Brasileira. E quando falo da igreja, quero especificar, mais claramente as Igrejas Neopentecostais, pois são dessas igrejas que proliferam com maior evidência as heresias. É óbvio que heresias estão entrando nas igrejas pentecostais históricas, e não podemos excluir que sua influência chega também às tradicionais, como as Presbiterianas, Batistas, Metodistas, só que nestas ocorrem como focos isolados de pessoas “fisgadas” pelo ensino de espíritos enganadores, ou no máximo uma boa parte da congregação. Mas antes de entrarmos nas heresias propriamente ditas, gostaríamos de diferenciar Seita de Heresia. A palavra seita significa “partido”, “corrente de pensamento”. No sentido original não era pejorativo (At 24.5,6). Em nossos dias tem a ver com um movimento ou instituição que segue um líder humano em torno de doutrinas deturpadas ou errôneas extraídas da Bíblia. Heresia, por sua vez, é derivada da palavra grega haíresis e significa “falso ensino”, ou seja, uma exposição de uma ou mais doutrinas que não condizem com as Escrituras. É uma abordagem sutil e distorcida do cristianismo bíblico. Como falei antes, as heresias estão mais evidentes nas igrejas neopentecostais, e as que abordaremos aqui são as que causam mais impacto. Em suma, essas igrejas estão ligadas a doutrinas da Teologia da Prosperidade. Citarei algumas dessas igrejas e seus líderes sem a pretensão de julgá-los ou incriminá-los. Igrejas: Internacional da Graça de Deus, Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus, Ministério Palavra da Fé, Sara Nossa Terra, Fonte da Vida, Verbo da Vida, Verbo Vivo, Cristo Vive, Renascer em Cristo. Líderes: Miss. R. R. Soares, Bispo Edir Macedo, Miss. Valnice Milhomes, Jorge Linhares, Jorge Tadeu, Cácio Colombo, Miguel Ângelo da Silva Ferreira, Estavam Hernandes, Valdemiro, etc. 1.

1. ORAÇÃO E SOBERANIA DE DEUS
Quando vemos líderes de determinadas igrejas fazendo oração, em programas de televisão e rádio, ou em livros, dá para ficar estarrecido com seu modo de falar com Deus. Suas palavras revelam que a soberania de Deus é ignorada. Não se chega na presença de Deus com um coração de servo, contrito e compungido. Mas, sob a alegação de fé, é exigido de Deus que responda as suas orações como uma apropriação. Os verbos usados, principalmente, são: exigir, decretar, reivindicar e determinar. Não se dá espaço para a expressão “seja feita a tua vontade”. A vontade de Deus deve ser feita de acordo com a vontade deles. A título de exemplo, certa feita um desses pastores disse que na igreja dele não tinha esse negócio de “se Deus quiser”, pois lá Deus quer. E não tinha isso de “bater” (Lc 11.9), pois se não abrir, ele arrebenta a porta! O verbo pedir perdeu o significado. Isso é um conceito diverso daquele ensinado nas Escrituras. “O verbo pedir em João 14.13,14 sugere a atitude suplicante, uma petição de alguém que está em posição menor a daquele a quem é feita a petição”.[1] Vários textos mostram essa atitude do coração ao orarmos ao Pai (Mt 7.11; At 12.20; Ef 3.20; Cl 1.9; Tg 1.5-6 e 1 Jo 5.14-15). O próprio Jesus buscou fazer a vontade do Pai (Jo 4.34; 5.30; 6.38; 7.17). Os cristãos podem ser específicos em suas petições que faz a Deus, derramando seus corações e compartilhando seus desejos, mas não deve esquecer que Ele é quem sabe o que é melhor para suas vidas.

2. CRENTES ENDEMONINHADOS
O autor desse trabalho é testemunha desse ensino. Ao visitar uma determinada Comunidade Evangélica, em Goiânia, fui surpreendido ao final do culto quando o missionário começou a orar pelas pessoas, e jovens obreiros que davam assistência ao culto foram até o altar e ficaram endemoninhados, precisando de orações para serem libertos. Será que o crente fica endemoninhado? Quando analisamos a prática de algumas das igrejas neopentecostais, vemos que a característica principal desses movimentos é a expulsão de demônios, pois para eles todos os males são causados por alguma atuação do maligno. Tanto no âmbito da pessoa, da sociedade, como da igreja e dos crentes individualmente, são produzidos por espíritos imundos. O bispo Edir Macedo, no livro Orixás, Caboclos & Guias: deuses ou demônios?, começa o cap. 15 dizendo: “Este capítulo não existiria se eu não tivesse visto constantemente pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas, como se fossem macumbeiras, ao receberem a oração da fé”.[2] Como disse Macedo, esses fatos são “casos” que presenciou, logo, fruto da experiência que teve e tem, em vez de citação ou exemplo bíblicos.
Na verdade, a Bíblia nos dá conta que o crente genuíno não pode ficar endemoninhado. Como diz o dr. Augustus Nicodemus Lopes, “a Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todo principado e potestade (Ef 1.21-22). O crente está em Cristo, e Cristo nada tem a ver com o maligno (Jo 14.30). E, naturalmente, o diabo não toca os que são de Cristo (1 Jo 5.18), pois o que está no crente (o Espírito Santo) é maior que os espíritos malignos que habitam este mundo (1 Jo 4.4)”[3]. Crente genuíno não pode ficar endemoninhado. O nominal sim, mas o regenerado e habitado pelo Espírito Santo, nunca!

3. CURAS
O argumento principal é o de que Deus cura sempre e a todos. Seus advogados dizem “que Deus prometeu curar a todos os doentes, pois as doenças não são da vontade dEle para o seu povo. A doença nunca é da vontade de Deus, pois Deus é amor”.[5] O texto chave usado é Is 53.5: “…o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Por isso, se algum crente está doente é por causa de pecado ou falta de fé. Romeiro argumenta: “Apesar de ter sido um profeta de Deus e de ter tido um ministério marcado por muitos feitos sobrenaturais, Eliseu morreu em conseqüência de uma enfermidade. Será que ele não tinha fé ou estava em pecado?”.[6] Podemos citar outros homens de Deus que ficaram doentes e podemos fazer a mesma pergunta, como por exemplo Paulo (2 Co 12.7-10), Timóteo (1 Tm 5.23,) Trófimo (2 Tm 4.20) e Epafrodito (Fp 2.30).

4. MALDIÇÃO HEREDITÁRIA
A base bíblica que têm é especialmente o texto de Ex 20.5-6, onde Deus diz: “visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem…”. Na verdade, esta expressão “não indica a existência de uma maldição hereditária, mas que qualquer violação da lei de Deus numa geração, fatalmente irá afetar as gerações futuras”.[7] As conseqüências da desobediência vão até a terceira e quarta geração, no entanto, os frutos da obediência não têm fim. Quando analisamos coerentemente essa palavra do Senhor, vemos que não se trata de maldição hereditária. Recorrendo a outros textos em que o Senhor fala, essa possibilidade é irreal. Vejamos: “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.2-4). Desse modo, chega-se a algumas conclusões. Primeiro, ninguém paga por ninguém (cp. Rm 14.12). Segundo, em Cristo somos absolvidos (Rm 8.1). E, por último, Cristo se tornou maldição por nós (Gl 3.13). Há outras conclusões, mas creio que estas são suficientes (leia Nm 23,8 e 23 – Ninguém pode amaldiçoar o povo de Deus se este não quiser).

5. PROSPERIDADE FINANCEIRA
O conceito de prosperidade financeira faz parte do conceito maior da Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva. Dentro desta percebe-se ensinos como a diferenciação entre Logos e Rhema[8], a Saúde Perfeita, Cura para Todos, Oração da Fé[9] e a Prosperidade Financeira[10]. Kenneth Hagin, o porta-voz da Confissão Positiva, disse: “Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo… simplesmente exija o que você precisa (New Thresholds of Faith, [Novos Limiares da Fé] 1985, p.55). A loucura chega a ponto de ensinar que o próprio Senhor Jesus foi um homem rico (ter um tesoureiro), ter boas vestes (a túnica sem cortes) e usado o melhor veículo (um jumentinho) da época, que segundo eles é comparado ao Cadillac. Mas quando estudamos a Bíblia, vemos que as coisas não são bem assim. Jesus nasceu em um curral, e durante o seu ministério não tinha onde reclinar a cabeça. No Antigo Testamento vemos Deus se preocupando com a situação do pobre (Dt 15.11). Jesus endossa o que o Pai desejava (Mc 14.7). Também Paulo demonstra sua preocupação (1 Co 11.22). Um evangelho que se preocupa essencialmente com a questão de posses financeiras levanta a questão da crise do ser e do ter. Falando sobre o materialismo e o cristão, a artista Joni Eareckson Tada diz: “A essência do Evangelho não é a saúde, nem a prosperidade, nem a felicidade, mas a submissão a Cristo”.[11]

6. MOVIMENTO G-12
Poderíamos tratar de algumas heresias dentro do Movimento G-12 que afetam a doutrina do ser de Deus (Teontologia) entre outros, mas algumas desses aspectos coincidem com ensinos Neopentecostais, inclusive quanto à liderança das igrejas, pois “defende o fim de colegiados, conselhos e assembléias, e propõe um sistema totalitário e personalista”[12]. O fundador “visionário” desse movimento, o colombiano César Castellanos escreveu: “A época das assembléias e dos comitês de anciãos para dar passos importantes na Igreja, já passou na história. Estou convencido de que Deus dá visão ao pastor e nessa medida é a ele que o Espírito Santo fala, indicando-lhe até onde deve mover-se”[13]. Desse modo, a autoridade e suficiência das Escrituras foram negadas, a exemplo de Dt 1; At 15; 1 Tm 1.6-16.

CONCLUSÃO
Realmente é de ficar triste e estarrecido quando se olha a situação da igreja evangélica no Brasil. Cristãos de outras nações quando olham para o fenômeno de crescimento numérico dos evangélicos em nosso país, ficam maravilhados por tal crescimento. Chegam até a dizer que estamos passando por um avivamento. Mas quando se olha para as distorções e os custos desse crescimento, começamos a perguntar se vale crescimento a qualquer custo, especialmente em detrimento da sã doutrina tão vital para a sobrevivência da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Não se pode negar que o crescimento evangélico tem sido grande, mas também vem acompanhado por heresias devastadoras, como câncer que corrói (II Tm 2.17). Muitos se ufanam com números e o fervor “evangelístico” da maioria das igrejas, principalmente as de cunho neopentecostal, que são as que mais crescem. Creio que a palavra inspirada de Paulo a Timóteo se aplica a essas igrejas e seus líderes carismáticos, e também deve nos deixar alertas com a cobrança que nos é imposta para crescermos igualmente: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”. Esse tempo chegou ao Brasil. “Não me venham com doutrina!”, dizem. Doutrina tem hoje um sentido pejorativo, como algo que denota e gera frieza e inatividade na obra de Deus. Mas muito do evangelho oferecido por aí tem a motivação no homem e em “suas próprias cobiças”. O que sobra são as fábulas que têm sido ensinadas como a verdade. A recomendação paulina é para nós hoje: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1-2).

Pr. Robson Rosa Santana
Igreja Presbiteriana de Tangará da Serra – EBD – Jul/2009


NOTAS DE REFERÊNCIA
[1] Paulo César Nunes, O Neopentecostalismo, in Currículo Aventura Cristã: Seitas e Heresias, (São Paulo: Cultura Cristã, 1988), p. 21.
[2] Bispo Macedo, Orixás, Caboclos & Guias: deuses ou demônios?, 13a ed., (Rio de Janeiro: Universal, 1996), p. 115.
[3] Augustus Nicodemus Lopes, O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual, 2a ed., (São Paulo: Cultura Cristã, 1998), 89.
[4] Paulo César Nunes, “O Neopentecostalismo”, p.22.
[5] Citado por Gildásio Jesus B. dos Santos, O Evangelho da Prosperidade, in Revista Educação Cristã: Entendendo as Religiões Hoje, 3a ed., (Santa Bárbara D’Oeste: SOCEP, 2000), p. 12.
[6] Paulo Romeiro, Supercrentes: o Evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomes e os profetas da prosperidade, 7a ed., (São Paulo: Mundo Cristão, 1998), 31. Quanto a morte de Eliseu ver 2 Rs 13.14-20.
[7] Arival Dias Casimiro, “Bênção e Maldição”, in Revista Educação Cristã: Entendendo as Religiões Hoje, 23.
[8] Pedro usa as duas palavras como sinônimos em 1 Pe 1.23-25.
[9] Em detrimento da soberania de Deus, como vimos antes.
[10] Para análise de todas essas heresias ver o capítulo 3 do livro Supercrentes, de Paulo Romeiro, citado anteriormente.
[11] Revista Raio de Luz, Ano 21, no 82 (jul., ago., set.), 1991, p.15.
[12] Jôer Corrêa Batista, “Movimento G-12: Uma Nova Reforma ou Velha Heresia?”, Fides Reformata V.5, Nº1 (Janeiro-Junho 2000), 38.
[13] César Castellanos Domínguez, Sonhas e Ganharás o Mundo, (São Paulo: Palavra da Fé, 1999), 146.

22 de setembro de 2009

A PÁSCOA DO SENHOR (Ex 12.1-28)

O QUE É A  PÁSCOA?
Em nossos dias a Páscoa se tornou algo comercial.
Presentear com ovos de chocolates. Os ovos têm origem no folclore pagão do início da primavera no hemisfério norte (Europa).
Surge a figura de um animal: o coelho. Sua origem vem do culto a uma deusa da luz anglo-saxã chamada Eostre, cujo animal sagrado era uma lebre (coelho). Em algumas representações dessa deusa da luz ela aparece com a cabeça de um coelho. Mais uma vez a celebração dessa deusa acontece na virada da primavera no hemisfério norte.
E tanto o coelho como os ovos são símbolos de fertilidade. E de origem pagãs.
Das tradições católicas vem a questão de comer peixe, especialmente o bacalhau.
Práticas essas inseridas com um jeitinho para dentro da celebração bíblica.
Mas eu insisto, “qual o significado da Páscoa?”.
Para nós cristãos evangélicos, o que significa?
CONTEXTO
Lemos um texto, em Êxodo 12, que fala de como a Páscoa foi instituída por Deus no meio do seu povo Israel.
O livro de Gênesis finaliza com a história de José, que havia sido vendido como escravo para o Egito.
José interpreta um sonho de faraó: o das “7 vacas magras e 7 vacas gordas”. Interpretação: “7 anos de fartura e 7 anos de seca e muita fome na terra”.
Pela vontade soberana de Deus torna-se a 2ª pessoa depois apenas do próprio faraó.
Como governador do Egito, constrói celeiros e armazena cereais no tempo da fartura. No tempo da escassez todos os povos da região vêm ao Egito comprar alimento, inclusive a sua própria família.
E como era alguém importante, traz toda a família, com cerca de 70 pessoas para morar no Egito.
Só que depois que o tempo passou, ele morreu e entrou outro Faraó, a família de José foi feita escrava e cresceu muito lá.
Passados 430 anos, Deus ouve o clamor do sofrimento do povo de Israel e levanta Moisés para libertá-los de tal situação difícil.
Moisés, que era judeu, mas foi criado como príncipe no Egito, fala com Faraó, a mando de Deus, para que ele libertasse o povo de Israel.
Mas faraó não permite. Deus lhe manda pragas para humilhar os deuses do Egito (Ex 12.12):
(1) águas em sangue; (2) rãs; (3) piolhos; (4) moscas; (5) peste nos animais; (6) úlceras (tumores); (7) chuva de pedras; (8) gafanhotos; (9) trevas;
A 10ª praga foi a morte dos primogênitos egípcios e quando o Exterminador passava sobre as casas dos israelitas via o sangue do cordeiro da páscoa aspergido sobre as “laterais e vigas superiores das portas” das casas (hoje, como se fosse o caixão das portas) eles passavam por cima e poupava os primogênitos do povo de Israel.
A palavra hebraica para Páscoa (xs;P, - pesah) significa “passar por cima”, em outras palavras “poupar”.
Se alguém lhe perguntar como surgiu a festa da Páscoa, você vai dizer: é a libertação do povo de Israel.
Nomes da festa
Na Bíblia se chama “a Páscoa do Senhor” (Ex 12.11, 27); a “festa dos pães asmos” ((Lv 23.6; Lc 22.1); o “dia dos pães asmos” (At 12.3; 20.6).

COMO ERA CELEBRADA A PÁSCOA?
“No entardecer do dia 14 de Nisã (Abibe), os cordeiros da páscoa eram mortos. Depois de assados, eram comidos com pães asmos e ervas amargas (Ex 12.8), enfatizando a necessidade de uma saída apressada e relembrando a amarga escravidão no Egito (Dt 16.3)” [EHTIC, vol. III, p. 101].
Então, a festa era celebrada como lembrança da libertação da escravidão e eram comidos cordeiros (carneiros com 1 ano), pães asmos (sem fermento) e ervas amargas [v.8].
E como deveriam ser comidas essas coisas? (v. 11)
“Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do SENHOR” [NVI].
Era assim que a Páscoa do Senhor deveria ser comemorada no Antigo Testamento, na Antiga Aliança.

E no Novo Testamento, no tempo da graça, devemos comemorar a Páscoa? Uma vez que Deus havia dito nos versos 14 e 17 que esta festa era um “estatuto perpétuo”, um “decreto eterno”?
Sim, irmãos. Mas devemos celebrar uma Nova Páscoa, a Páscoa Cristã! Jesus quando celebrou sua última páscoa, na verdade celebrou a antiga e instituiu a nova páscoa.
Leiamos Marcos 14.12-17, 22-26

Quais os preparativos (v.12)? Segundo Barclay (Bíblia Vida Nova):
O cordeiro pascal, lembrando a proteção contra o anjo da morte no Egito (Ex 12);
Os pães asmos sem levedura, lembrando a urgência da saída do Egito;
Água salgada, lembrando as lágrimas do Egito e as águas do mar Vermelho;
Ervas amargas, lembrando a amargura da escravidão;
Uma sopa de frutas, lembrando a obrigação de fazer tijolos;
4 copos de vinhos, lembrando as 4 promessas de Ex 6.6-7.

Os discípulos, encontrando a pessoa e o lugar indicados por Jesus, preparam a ceia da Páscoa (vv. 13-16).
A festa da Páscoa dava-se início no crepúsculo da tarde, na virada do dia judaico, e Jesus foi com os doze comer a Páscoa (v.17).
Enquanto comiam o cordeiro assado, a sopa de frutas, a água salgada e as ervas amargas, Jesus pega um pão asmo, abençoa, reparte e dá aos discípulos, dizendo: “tomai, isso é o meu corpo” (Mc 14.22) “oferecido por vós. Fazei isso em memória de mim” (Lc 22.19).
Mc 14.23-24: “A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos; e todos beberam dele. 24 Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos” (cf. Ex 24.6-8).
João Batista ao ver Jesus vindo a ele no rio Jordão para ser batizado disse: “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29, 36).

CONCLUSÃO

Nem ervas amargas, nem ovos de chocolate, nem coelhinho. A páscoa é a celebração da morte e ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A nossa páscoa, a páscoa cristã, é celebrada todas as vezes que participamos da ceia do Senhor. Na nova aliança, Jesus é que cumpre a páscoa em sua própria vida (“eu para cumprir...”)
E os elementos são outros: pão e vinho. Pão simbolizando o Seu corpo oferecido por nós e o vinho, o Seu sangue derramado, pois “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22 cf. Mt 26:28; Ef 1.7).
E na celebração da ceia do Senhor serve de memorial daquilo que (1) Cristo fez no passado por nossos pecados, (2) que temos comunhão com Ele e com os irmãos através da fé (presente), e anunciamos também outro fato importante: “até que ele venha”; Jesus voltará (aspecto futuro – escatológico).
A mensagem central da páscoa continua a mesma Pesah: “passar por cima”, poupar. Libertação por meio do Cordeiro pascal Jesus.
“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl 1.13-34, NVI).

Pr. Robson Rosa Santana

Pesquisa (além da Bíblia):
Buckland, Dicionário Bíblico Universal, editora Vida.
W. E. Elwell (ed.), Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, edições Vida Nova.
Gabriela Sampaio, “O Coelho da Páscoa”, em: http://www.msn.com.br/homem/classicos/Default.asp (acesso em 27 de março de 2005)

Amor ou indiferença: qual caminho você está trilhando? (Lc 10.29-37)

Introdução
Gostaria de contar uma história que talvez muitos de vocês já conheçam. É a história do filho de um missionário de Asas de Socorro, uma missão que fica bem perto de nós, aqui em Anápolis. Diz que em um certo passeio, as crianças estavam numa embarcação, não sei se lancha ou bote, quando em determinado momento ela virou. Naquele momento de angústia em que as crianças estavam tentando lutar por salvar suas vidas, chega alguém para salvar o filho do missionário. Então, ele diz: salve aquele outro garoto, porque ele ainda não conhece a Jesus.

Uma história como essa nos faz meditar: “Que tipo de amor é esse?”. Aquele garoto preferiu arriscar sua vida para que o outro amiguinho tivesse a oportunidade de conhecer a Jesus. Isso é algo impressionante, que deve mover o nosso coração.

Muitos de nós ficamos a observar os sinais dos tempos. Dizendo que o fim está próximo, as guerras se multiplicam, a fome assola muitos países, a violência tem imperado, mas no meio desses sinais, o Senhor Jesus disse que “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.6).

Infelizmente, essa é uma realidade que se evidencia no nosso meio, entre aqueles que se dizem irmãos em Cristo; entre aqueles que são irmãos de sangue; entre aqueles que convivemos tão de perto. O Espírito Santo já derramou o amor do Pai em nossos corações, mas a indiferença quase tem dominado nossas vidas. Somos egoístas, chegamos a ser “ególatras”, como disse certa vez Nelson Ned. Idolatramos a nós mesmos e os outros que se virem.

Narrativa
É contra essa indiferença que Jesus fala a parábola do “Bom Samaritano”, algo que realmente poderia ter acontecido daquele jeito. Voltando um pouco para o contexto que se engloba essa passagem. Lucas nos revela que Jesus havia passado boa parte do seu ministério na Galileia, mas agora chegou o momento dele cumprir cabalmente seu ministério e era necessário que ele fosse para Jerusalém. Se você retroceder um pouco na sua Bíblia, em Lucas 9.51-52, você verá isso. Leiamos todos juntos: “E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada”. 

Era chegado o momento de ir a Jerusalém. É nessa caminhada rumo à crucificação que Jesus teve essa conversa com o intérprete da lei. Antes disso, seus enviados à Samaria são rejeitados. Depois, Jesus questiona àqueles que queriam segui-lo, sem um compromisso mais sério. Já no capítulo 10, ele envia setenta discípulos para que o precedessem onde ele haveria de passar e ficam maravilhados do poder de Deus sobre os inimigos malignos. Traz uma palavra de juízo para as cidades que já tinham visto o seu poder e ainda assim, não o aceitaram. O juízo sobre essas cidades seria maior do que para as cidades filisteias de Tiro e Sidom. E num momento antecedente ao texto que queremos tratar, Jesus glorifica ao Pai porque as coisas de Deus não foram reveladas aos sábios e entendidos, mas aos humildes, aos pequenos.

Em sequência, não sabemos se num momento imediato às palavras de Jesus em Lc 10.21-24, aparece aquele personagem que levou o Senhor Jesus a nos ensinar algumas lições a respeito do amor ao próximo.

Toda a questão surge em torno da pergunta: “que farei para herdar a vida eterna?”. Lá estava um homem que era intérprete da lei, um escriba versado nas Escrituras do Antigo Testamento, que ao invés de querer aprender do Senhor Jesus, quis colocá-lo à prova. Jesus, como o Mestre dos Mestres, lhe retorna a pergunta: “Que está escrito na Lei? Como interpretas?”. Jesus não queria ensinar algo novo, seu ensino não veio para chocar com que os judeus já tinham, mas ele pergunta o que ele entendia do que Deus já havia revelado. Sua resposta é surpreendente. 

Ele resume toda a lei nos dois grandes mandamentos que Jesus outrora também resumiria: amar a Deus com todo o nosso ser e a próximo como a nós mesmo. O resumo da lei é o amor. Ele cita os textos de Dt 6.5 e Lv 19.18. Sua resposta é corretíssima, não precisava que lhe acrescentasse mais nada, era uma resposta completa. A ponto de Jesus lhe dizer: “Respondeste corretamente; faze isto e viverás”. Quanto à resposta de Jesus, gostaria de falar sobre ela na conclusão, mas aqui cabe uma observação muito importante e que cabe a nós hoje: muitos de nós somos como aquele intérprete. Temos o conhecimento de como se deve viver e não vivemos. Isso revela um pouco da nossa hipocrisia, ao tratar com as coisas de Deus.

Depois desse preâmbulo, surge a pergunta que faz com que Jesus conte a tão famosa parábola do Bom Samaritano. É importante notar que o foco sai de: “que farei para herdar a vida eterna?”, para “Quem é o meu próximo?”.

Assim como na primeira pergunta, em que o escriba quer por Jesus à prova, agora ele tenta justificar-se. Novamente Jesus não lhe dá a resposta, e como agora ele não tinha as Escrituras para interpretar, Jesus lhe conta uma parábola para que ele mesmo encontrasse a resposta.

Parábola era um recurso pedagógico muito utilizado por Jesus. Através delas ele ensinou muito da realidade das coisas espirituais e que precisavam se tornar algo mais palpável para a mente daquele que o ouvia. A essência da parábola era trazer comparações da vida cotidiana de seus ouvintes, transpondo-as de uma realidade mais abstrata. Longe dos ensinos abstratos dos filósofos gregos, Jesus queria trazer para aqueles que o cercavam, conceitos profundos, mas ensinados de forma a fixar na memória, quase que os visualizando. O propósito das parábolas era ilustrar, clarear o que se queria ensina, mas para alguns, os incrédulos, tinha a finalidade de ocultar, sublimar, para que ouvintes, ouvindo, não ouvissem. A parábola do “Bom Samaritano”, no entanto, é mais do que clara, não tem quem não a entenda, e apesar dos vários elementos que a compõe, essa parábola contém uma lição básica, um conteúdo essencial.

AMOR OU INDIFERENÇA: QUAL CAMINHO VOCÊ TEM TRILHANDO?

Em primeiro lugar, a parábola nos ensina que:

1. A Indiferença é um Pecado Mortal (vv. 30-32)
Depois de responder corretamente a Jesus ao dizer que a vida eterna se recebe ao amar o próximo e ao próximo como a si mesmo, o intérprete vem com mais uma pergunta: “quem é o meu próximo”. O texto no diz que ele queria se justificar, queria ser justo diante de Deus, ou seja, queria se fazer de inocente diante desse mandamento, então Jesus lhe refresca a memória com uma parábola. Jesus como o Mestre dos Mestres sabe usar o melhor recurso didático que lhe aprouver. E conta essa história para que ele mesmo tirasse as suas conclusões. Jesus diz que um certo homem indeterminado estava descendo de Jerusalém para Jericó. Até bem pouco tempo atrás essa estrada era bastante perigosa. 

Jerusalém fica a 754 metros acima do nível do mar, enquanto Jericó a 258 metros abaixo. Realmente era uma descida. Um terreno montanhoso, rochoso, em que havia algumas cavernas. Nessa estrada perigosa, acontece a história proposta por Jesus. E é bem provável, ou no mínimo, possível, que essa história fosse um fato real, mas isso é só especulação. O que importa na realidade é o que acontece àquele homem que estava descendo para Jericó e as reações de alguns personagens com relação a ele.

Aquele “certo homem” teve o azar de se deparar com salteadores ou assaltantes, os quais roubaram-lhe suas roupas. No original vemos que ele foi despido e ficou nu. Depois disso foi espancado com muita violência e deixado como que morto. Lá estava um moribundo estendido no chão. Semimorto. Talvez a gemer de dor, mas ainda vivo. Diante desse fato, é que se desenvolve a nossa história. 

Leiamos os versos 31 e 32. Aqui vemos dois personagens que explicitam categoricamente a indiferença para com aquele homem que estava a morrer. 

O primeiro deles é um sacerdote. Um homem consagrado para o serviço no templo do Senhor. Aquele que ministrava a Deus em favor dos homens. Aquele que levava o sacrifico do pecado perante Deus para que ele o perdoasse. O sacerdote era aquele que intercedia pelo povo, buscava o favor de Deus por eles. No entanto, depois que saiu das vistas de seus serviços externos e visíveis, depara-se com uma situação que bem lhe poderia usar de sua função e ofício para ajudar e expressar seu amor pelo próximo. A ironia santa do Senhor Jesus era que além de ele ser um sacerdote, bem que poderia ter vindo de suas atividades eclesiásticas. Bem que poderia estar saindo de seu turno de trabalho e estar indo para casa. Os sacerdotes tinham seus turnos a cumprir, vemos isso no caso do pai de João Batista, o sacerdote Zacarias (Lc 1.8).

Então, quem sabe voltando para casa, vê um homem machucado, semimorto, carente de ajuda, pois não poderia ajudar a si mesmo, e “passa de largo”. Não ocorria aqui a possibilidade de pegar em um morto e ficar impuro e não poder ministrar no templo, pois não estava indo para Jerusalém, estava vindo de lá. O que demonstra a indiferença é a expressão: “vendo-o, passou de largo”. Não exerceu verdadeiramente o seu sacerdócio em favor daquele homem. Viu e se afastou. Viu e passou pelo outro lado da estrada. Como que dizendo: “eu não tenho nada a ver com isso”. E seguiu seu caminho normalmente.

O outro personagem que demonstra o pecado da indiferença é um levita. Hierarquicamente, servia ao sacerdote. Era seu ajudador, auxiliar. Também estava no templo. Ministrando a Yahweh, o Deus todo poderoso. Conhecedor da lei e dos mandamentos. Ele também se defronta com a mesma situação. Lá estava ainda o mesmo a sentir a dor do espancamento, a definhar, a morrer a míngua. Então, agora, passa o levita. Estava no mesmo caminho, na mesma estrada, vê aquele infortunado e não lhe oferece socorro. Novamente as duras palavras da indiferença: “vendo-o, também (ler com ênfase) passou de largo”.

Não há sentimento pior do que a indiferença. Alguém já disse que pior do que o ódio é a indiferença. Certa feita uma amiga ficou chateada comigo, penso eu, injustamente, eu tentei estabelecer um diálogo, então ela me disse: “desprezo mata até capim”. O que ela queria dizer era que a indiferença, o não considerar mais, o passar despercebido pela outra pessoa é algo fatal. 

Quantas vezes você não agiu ou age assim em sua vida. Poderíamos citar várias situações que demonstram isso. Por exemplo, quando pessoas que estão no seio da igreja e saem, e você não manifesta nenhum falta ou consideração por ela. Normalmente dizemos que ela saiu porque quis. Queremos nos isentar de culpar. Como o intérprete da lei, queremos “nos justificar”. Não procuramos saber os reais motivos de sua saída. Às vezes não entendemos que o melhor lugar para alguém estar é inserido no meio do povo de Deus. 

Certa feita o primeiro ministro inglês disse: a democracia é o pior dos regimes, depois de todos os outros. A igreja pode passar por dificuldades, hipocrisias e várias crises, mas ainda assim, é o melhor lugar para se estar. Por isso não podemos concluir friamente “foi porque quis”, mas devemos ir atrás, é nosso dever. É nossa obrigação. E se, ainda assim, ela não quiser, devemos ser-lhe uma pessoa amiga. Quantos entram e saem da igreja, sentam do nosso lado e não lhe manifestamos nenhum afeto. Faz de conta que ela não existe. Como atrair outros se não praticamos o amor de Deus que já foi derramado em nossos corações. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35). Por isso que a indiferença é um pecado mortal. No caso do homem que foi assaltado, realmente ele poderia morrer. Mas há outras situações em que não matamos fisicamente, mas, sim, lá no íntimo das pessoas, por causa da nossa indiferença.

Em segundo lugar, o texto nos ensina que:

2. O Amor é o cumprimento da lei de Deus (vv. 33-35)
Mais uma vez é preciso ressaltar o recurso didático dos ensinos de Jesus. Ele não somente quis ensinar ao intérprete quem é o próximo, mas também ele quis chocar, causar um impacto ao inserir na história um personagem samaritano. A situação era a mesma. O caminho era o mesmo, o homem jogado no chão também. O personagem bem que poderia ter sido um judeu leigo. Essa era a conclusão lógica. Pois primeiro vem um sacerdote, depois um levita e se esperava um judeu. Mas Jesus queria ensinar a essência profunda do amor através daquele samaritano. 

Como já disse, a situação era a mesma, mas o desdobrar da história foi totalmente diferente. O certo samaritano “passou-lhe perto,… compadeceu-se dele” (v.33). Ele, como o sacerdote e o levita, viu o homem, mas sua reação foi diferente. Seu coração foi comovido. A versão Corrigida traduz: “moveu-se de íntima compaixão”. Algo do fundo do seu coração tocou sua vida. A palavra no original quer dizer justamente isso: (gr. esplagchniste) “ser movido com compaixão por”, “sentir simpatia com” ou “sentir pena de”. Ela tem raiz na palavra entranha (gr. Splagchna), a sede dos sentimentos e das emoções para o judeu da época, corresponde a coração hoje. Esse foi o sentimento que o samaritano teve para com aquele judeu que jazia moribundo.


Jesus tinha uma lição profunda para ensinar ao doutor da lei: é preciso tornar-se próximo de quem tem necessidade. Não bastava somente identificar quem era o próximo. Todos os que estão carentes e necessitados são os próximos de nós. Jesus ataca incisivamente a religiosidade dos líderes religiosos de então. Aliás, ele fez isso muitas vezes. Jesus ataca o preconceito. Havia uma separação radical entre judeus e samaritanos. Os samaritanos eram meio judeus, pois havia se misturado com os gentios na volta do reino de Israel do cativeiro da Assíria. Não somente os judeus, mas uma gama de outros povos veio repovoar o território de Israel. Então, por isso, a segregação. Os judeus eram a raça pura. Os samaritanos, impuros, imundos. 

É óbvio que a rejeição teve início com os judeus. E os samaritanos, por sua vez, retribuíram a hostilidade. Vemos a hostilidade mútua pouco antes de nosso texto aqui. Quando Jesus toma a resolução de ir para Jerusalém, envia seus mensageiros a Samaria, os samaritanos não os receberam (Veja Lc 9.53). Os judeus, por sua vez, quando Jesus lhes fala em João 8.47, abramos todos a Bíblia lá, disse: “47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus. 48 Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio?”. O termo samaritano era um termo pejorativo, designativo de pecador e imundo.

Eram essas as relações que existiam entre esses dois povos co-irmãos. Então, Jesus ao contar essa parábola, insere nela um samaritano, que age melhor do os judeus religiosos para com o seu irmão. Jesus aqui vai de encontro ao preconceito. Qual o preconceito que tem impedido de chegarmos àqueles que precisam de nós? Será a cor, a condição financeira, uma mágoa recolhida, um relacionamento mal resolvido?

Para Jesus, o amor é algo que você sente e faz. Foi isso que o samaritano fez. O texto diz que ele se compadeceu “e”, essa partícula é importante. Ele não “se compadeceu” e ponto final, mas há uma conjunção aditiva “e” (kai.). Ele agiu, não ficou só a ver e a sentir, mas agiu. Ele cuidou daquele homem com os recursos que ele tinha para tratar dos ferimentos. Ele usa do vinho como um esterilizante e do óleo de azeite como pomada ou bálsamo. Leva-o para uma hospedaria. Cuida dele lá e ainda paga suas despesas. E ao ir embora, talvez por necessidade dos negócios, ele diz a hospedeiro: “cuida deste homem, e, se alguma cousa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar” (v.35). 

Ele poderia muito bem deixar aquele homem em um lugar seguro e ir embora. Ele bem que não poderia ter pago as suas despesas, o doente que pagasse depois. Mas, não. Ele cuida daquele homem de forma integral. O amor do samaritano foi um amor agente. Um amor que age. Assim foi Deus também. “Deus amou o mundo que deu” (Jo 3.16), “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13). Esse é o tipo de amor que Deus quer ver expressado por nossas vidas: um amor doação; um amor que se dá. Não amemos de língua e de palavra, pois assim é muito fácil, mas de fato e de verdade, como escreveu apóstolo João em sua primeira epístola.

Conclusão
Depois de toda essa história, Jesus pergunta ao intérprete da lei, v. 36: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”. A resposta foi correta, mas ainda revela um preconceito intrínseco. Ele não responde que foi o samaritano, mas “o que usou de misericórdia para com ele”. Como que tendo aversão à palavra e que ela implica. Então, Jesus conclui: “vai e procede tu de igual modo”. É preciso fazer mais algumas aplicações aqui. A primeira, é que qualquer tentativa de autojustificação é fracassada. 

A pergunta que deu origem à parábola foi: “que farei para herdar a vida eterna”. O intérprete estava em busca de ele, por si mesmo, alcançar a salvação. E a resposta foi: “faze isto e viverás” (v. 28). A lei em si mesma não é má, mas ninguém nesse estado de pecado pode guardá-la perfeitamente. Se pudesse e guardasse, ele seria justificado, mas é impossível, pois Deus exige perfeição. Toda tentativa de autojustificação é ilusão. Em segundo lugar, e em relação à primeira, é preciso dizer que há um padrão ético que devemos perseguir e lutar, embora não alcancemos. Por isso é injustificável que cheguemos e digamos: eu não consigo amar a Deus e ao próximo perfeitamente ou com todo o meu seu, então vou desistir de amar. Não, é necessário perseguir e perseverar nesse caminho sobremodo excelente que é o amor.

Com relação a mim e a você, ainda podemos ver que há nessa parábola dois tipos de pecados e dois tipos de pecadores: os pecados são (1) a violência e (2) indiferença (ou negligência); os dois tipos de pecadores são (1) os ladrões e (2) os religiosos (o sacerdote e o levita). Surge uma pergunta que é necessária fazer: “que tipo de pessoa é você?” Você é uma pessoa como o samaritano que ama o próximo quando necessitado, que ultrapassa os preconceitos para amar? Ou como o levita e o sacerdote que vê o próximo carente e necessitado e passa de largo, passa de longe e finge que não vê?

Qual caminho você tem trilhado? Do amor ou da indiferença? Ainda é tempo de suplicar ao Senhor para que venha e derrame graça sobre sua vida e lhe capacite para amar como ele amou, em nome de Jesus.

Robson Rosa Santana
Pastor presbiteriano