17 de outubro de 2008

DECLARAÇÃO SOBRE MISSÃO

Declaração Adotada pelo Concílio Ecumênico Reformado – Atenas 1992*

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PREFÁCIO
A Igreja de Jesus Cristo tem o privilégio e a obrigação de participar na missão do Deus Triúno. Porém, vários pontos de vista existem em relação ao que esta missão é, mais especificamente, é a tarefa da Igreja em relação aos propósitos de Deus para a humanidade.

Alguns cristãos diriam que a missão é tudo que a Igreja é enviada ao mundo para fazer. Outros sentem que tal definição está por demais ampla e mantêm que a proclamação do Evangelho e a salvação das almas perdidas são a missão específica da Igreja. Ainda outros não vêem a necessidade de proclamar o Evangelho com vista à conversão de pessoas e sua incorporação na Igreja. Uns poucos estão começando a expressar dúvidas acerca da exclusividade de Cristo e a necessidade da fé Nele para a salvação.

Entre os cristãos Reformados também existe desentendimento acerca da natureza da missão, sua oportunidade e seus desafios. As Confissões Reformadas, sendo um produto do século 16, dizem pouco sobre missão de um modo explícito. Para a Igreja daqueles dias, as marcas da verdadeira Igreja não incluíam o executar da Grande Comissão.
Esta declaração é dirigida a todas as Igrejas Membro do REC[1], para dar direção à implementação da tarefa missionária.
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1. O foco central da Escritura é o interesse redentor de Deus pela humanidade e seu universo criado. Nas páginas das Escrituras nós somos confrontados com o fato impressionante de que Deus se recusa a abrir mão de um mundo rebelde. Ele está determinado a recriar o gênero humano caído, juntamente com toda a criação, a seu propósito inicial. O Antigo e o Novo Testamento mostram que nosso Deus é um Deus que envia. Ele enviou profetas, apóstolos e anjos, e finalmente Ele enviou Seu Filho unigênito (Hebreus 1.1-4). A própria existência da Escritura dá testemunho do fato que Deus estende a mão em amor a Seu mundo caído.

2. Missão é a obra do Deus Triúno, Pai, Filho e Espírito Santo. Esta missão de Deus (missio Dei) expressa o interesse de Deus pela salvação do mundo em todas as suas dimensões e culminará em Seu Reino de Paz.

O chamado de Abraão e de seus descendentes tinham um propósito a longo alcance em mente, ou seja, a salvação das nações (Gn 12.3). O povo de Deus do Antigo Testamento era para servir como testemunha do propósito de Deus para TODA a humanidade. Deus pretende, e em Seu Filho garante, a restauração de um mundo perdido para Si mesmo.

3. Essa missão de Deus é abrangente porque a totalidade da criação pertence a Ele (Sl 24.1). Todavia, nessa excelente criação, veio um Enganador, aquele que corrompe a humanidade, desfigura e procura destruir as obras de Suas mãos. Porém, nosso Deus é o Rei de toda a terra, e Ele não abandonou sua criação ao Diabo. Seu interesse é dirigido para a salvação de pessoas e para a redenção de toda a ordem criada da escravidão e da decadência. O conflito básico na criação é o contexto em que Deus enviou Seu Filho. O propósito sobressalente (overarching) da missão de Deus é a expressão de Sua glória (Sl 18.49; Rm 15.9).

4. A vitória do Reino de Deus foi alcançada na obra redentora de Jesus Cristo, que é a esperança do mundo. Deus Pai o enviou ao mundo para fazer revelar os pecados de Seu povo. Cristo voluntariamente esvaziou-se de Sua glória, tornou-se um ser humano, sofreu e morreu uma morte vergonhosa na cruz pela segurança de Seu povo. (Fp 2.6-11). Sua ressurreição dentre os mortos no terceiro dia foi tanto o testemunho da Filiação divina assim como evidência de Sua vitória sobre os poderes do pecado, da morte e do inferno (Rm 1.4). Visto que Deus graciosamente declara Seu povo justo e perdoado sobre a base da expiação de Cristo, que ele aceitou em lugar do castigo deles.

A despeito do fato de que o caráter único da fé cristã é questionado em alguns círculos, a igreja testifica claramente a exclusividade de Cristo. Ele é o único mediador entre Deus e a raça humana (I Tm 2.5; Jo 14.6). Jesus não é, então, para ser considerado como um mestre religioso entre muitos, mas como o Único que é para ser confiado e adorado. Ele é o único Salvador do mundo.

5. A Igreja é reunida por Deus através de Seu Espírito Santo dentre a raça humana inteira como uma comunidade escolhida para a vida eterna e unida pelo Espírito Santo na fé verdadeira. A Igreja no Novo Testamento é uma comunidade, que tem sua origem no Espírito Santo e conduzida ao ministério capacitada pelo mesmo Espírito (Fp 2.1). Os dons carismáticos mencionados em I Coríntios 12.7-11 e outras passagens têm como seu propósito essencial a capacitação do povo de Deus para ministrar a outros a graça de Deus em Cristo. A Igreja só pode ser tal agente de reconciliação quando ela vive obedientemente ao Senhor (I Pe 2.11, 12).

6. A missão da Igreja (missio ecclesiae) é derivada da missão de Deus (missio Dei). A Igreja é o Corpo de Cristo harmonizado e participa na missão do Deus Triúno. A vida da Igreja manifestada através de cada congregação local existe para ser adequada ao chamado e propósito de Deus, ativamente procurando estender as fronteiras de Seu Reino (Mt 28.18-20; II Co 5.20; Is 49.6). O fundamento, o objetivo, a tarefa e o conteúdo do ministério da Igreja deriva da comissão do Senhor ressurreto. Como o Pai enviou o Filho ao mundo assim Ele envia Seu povo ao mundo (Jo 20.21).

7. Cristo já obteve a vitória sobre o pecado e a morte, mas a batalha ainda não está terminada. A Igreja, como instrumento de Cristo, continua a luta contra o reino de Satanás, onde as pessoas estão escravizadas na ignorância, avareza, auto-adoração e opressão. Como povo de Cristo, a Igreja deve demonstrar o poder de Deus sobre as forças do mal. Como a Igreja convoca pessoas à fé pela proclamação da Palavra de Deus, ela é chamada para atestar ministérios, mostrar o poder salvador de Deus e às vezes para participar no sofrimento.

8. A Igreja tem uma variedade de ministérios para os seus próprios membros e para as pessoas além de suas fronteiras. No pensamento e fala proféticos, em serviço sacerdotal e estilo de vida, e em sua promoção real da justiça, a Igreja deve demonstrar o que significa ser cidadãos do Reino.
É a tarefa da nova comunidade de Cristo:

a. Proclamar a Palavra de Deus a um mundo caído.
b. Erigir sinais do Reino presente e vindouro através de seu ministério ação.
c. Estabelecer a comunidade do povo de Deus.
d. Dar a Deus a adoração e a honra que Lhe é devida.
Todos esses quatro ministérios são essenciais e cada um é entrelaçado como os outros. Todavia, a salvação do mundo e seu povo é supremamente presente na primeira tarefa, e isto forma o coração e centro da missão da igreja.

9. Assim, a Igreja é uma presença missionária no mundo. Não existe outra Igreja que não seja a Igreja que é enviada ao mundo. A Igreja como um todo e cada membro individual tem uma obrigação em dependência da graça de Deus para orar pelo mundo, proclamar o Evangelho e ser bons mordomos de Sua criação.

10. A salvação que Deus tem preparado não é restrita à incorporação de indivíduos na Igreja. O alvo da salvação é a redenção do universo. Visto que a salvação é tão abrangente, a missão da igreja é igualmente abrangente. Inclui o chamamento de homens e mulheres da morte para a vida, mas também inclui combater o caos na ordem criada e nas estruturas sociais, e deve também revelar o Reino das Trevas e os ídolos de nosso tempo, denunciar o pecado de avareza e a busca singular de riqueza econômica, e confrontar os poderes que são responsáveis por várias formas de males estruturais e sistêmicos. A obra diaconal, humanitária é integral para a missão cristã, mas deveria diferir claramente daquela conduzida pelas agências seculares. A dimensão, o chamado, a salvação em palavra e obra, permeia a obra da missão cristã.

11. A transformação da sociedade engloba cada condição de transformação da existência humana de tal modo que as pessoas possam ter vida abundante de acordo com o propósito de Deus. Tal transformação acontece através da fé e da obediência a Cristo. Através da fé Nele vidas humanas são livres da escravidão do pecado e de si mesmos para a liberdade de servir a Deus e ao próximo (Rm 5.1; II Co 5.17).

12. Em cada país do mundo, a Igreja se encontra em uma situação missionária. O grande movimento de povos em nosso tempo tem intensificado o desafio missionário, e os enormes problemas sociais exigem atenção urgente e envolvimento profundo. Desse modo, as Igrejas Reformadas em qualquer lugar são chamadas para cumprir sua missão em amor e justiça, paz e verdade, será demonstrado e estendido como feridas sociais que são tratadas e curadas, e as pessoas serão atraídas a Cristo e à comunidade de Seu Corpo.

13. A missão da Igreja é focalizada sobre a promessa bíblica de um novo céu e uma nova terra, onde o amor, a paz e a justiça habitarão (Sl 85.7-13; Is 65.17-25; Ap 21.1,2). A nova criação que começou em Jesus finalmente virá à plenitude em Seu retorno. Naquele tempo tudo da vida será completamente libertado do poder do caos, do pecado e da morte e a Majestade do Senhor será perfeitamente manifestada (I Co 15.28).

14. O chamado missionário da Igreja e a unidade da Igreja são indivisíveis (Jo 17.21). A credibilidade da Igreja e a missão do Evangelho são comprometidas quando a Igreja falha em demonstrar sua unidade essencial em Cristo. É imperativo que a Igreja incorpore os princípios do Reino de Deus e se esforce para expressar a unidade do Espírito localmente e mundialmente.
Conclusão
Por esta declaração nós, Igrejas Reformadas, declaramos nossa disposição e ânsia de unir-se na missão de Deus dirigida à salvação dos seres humanos e à restauração da criação. Isso implica que nós nos colocamos com Deus contra todas as injustiças, que levam pessoas criadas à imagem de Deus a serem violentadas, e que causam paz como objetivo maior de Deus para a criação de ser destruída. Nós declaramos mutuamente nossa concordância de participar na obra com um espírito de harmonia e cooperação.

Nós, além disso, encorajamos outras igrejas que participem nesta visão, mas pode não ser em uma sociedade imediata conosco, a unir-se conosco em uma causa comum de trazer a salvação de Cristo a cada criatura de forma que todos e tudo em toda a criação possam regozijar-se na vinda do Reino de Deus, onde Ele reinará para sempre.




* REFORMED ECUMENICAL COUNCIL. Statement on Mission. Athens, 1992. www.gospelcom.net/rec/missionstatement.html, [acesso em 30 de mai. 2002]. Traduzido por Robson Rosa Santana, Jun-2002.
[1] Reformed Ecumenical Council (Concílio Ecumênico Reformado). Nota do tradutor.

ELEIÇÃO: INCENTIVO PARA A EVANGELIZAÇÃO

“Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18:9).

Na cidade de Corinto houve uma forte oposição ao evangelho, tanto por parte dos gentios, como dos judeus. Diante desta situação desmotivadora, Deus lhe fala em visão ao apóstolo Paulo para que não temesse, pois Ele tinha muitos escolhidos naquela cidade. A verdade doutrinária que aprendemos é que o fato do Senhor ter um povo naquela cidade, como tem em todas as tribos, povos, línguas e nações, deve ser o agente motivador para anunciar o evangelho de Cristo.

Qual, pois, a relação entre predestinação e evangelização? Ambas são decreto de Deus. Na eternidade Deus ordenou tanto um povo para Si, como os instrumentos que levariam Seu plano adiante. Se Ele quisesse, todos os eleitos seriam salvos pela poder da Sua voz ecoando dos céus, ou através da pregação dos anjos, ou de qualquer outra forma. Mas não é assim. Deus resolveu nos incluir na consecução do Seu decreto. Nós, os Seus servos, somos a instrumentalidade de Deus no plano da salvação por meio de Cristo Jesus. E não podemos, desse modo, fugir de nossa responsabilidade.

Há pelo menos três aspectos em Atos 18:9, 10 que é importante ressaltar:

1. Primeiro é o fato de que Deus nos encoraja na obra da evangelização - “não temas... fala... não te cales”. Isto mostra que o Senhor está no controle de todas as coisas e é o nosso Controlador. O próprio Jesus nos encoraja a pregar o evangelho até os confins da terra. Para isso devemos estar no poder do Espírito Santo e na Sua direção.

2. O segundo é a segurança que temos. Deus não estar alheio à Sua obra de redenção. Ele não estar de braços cruzados olhando distante para sua criação. Ele estar agindo eficazmente no coração do pecador, através de Seu Espírito, e atraindo os homens a Si mesmo. De modo algum Ele nos abandonaria. Ele, na verdade, nos dá segurança, “eu estou contigo e ninguém ousará fazer-te mal”.

3. O terceiro fato, como já disse, é a nossa maior motivação. Quantas vezes os apóstolos, como todos os cristãos genuínos, não sofreram oposição dos pecadores impenitentes e pensou em desistir de falar-lhe de Cristo, por causa da dureza de seus corações. Se não fosse a convicção de que Deus tem um povo para Si, e que esse povo há de confessar o bendito nome de Jesus, sucumbiríamos em nossas fraquezas. Mas, não. Deus está dizendo a mim e a você: “Eu tenho muito povo nesta cidade". Se fossemos depender do incrédulo e de nossos próprios recursos, desistiríamos facilmente do mandamento da evangelização.

Conclusão
Devemos pregar a evangelho sem esmorecer, pois teremos sucesso em nossa tarefa. Deus nos garante isso. Paulo tinha tanta convicção que havia sido chamado para promover a fé dos gentios que pensou que durante seu ministério ele haveria de ganhar todos os gentios eleitos para Cristo. Vemos esta pretensão quando ele fala da plenitude dos gentios. Para ele, ao se completar o número dos eleitos salvos, Jesus Cristo voltaria. Ele demonstra isto quando escreve aos tessalonicenses: “Ora ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor de modo algum precederemos os que dormem”. “ depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles...” (I Ts. 1:15, 17 - itálico meu). Desse modo, enquanto estivermos aqui neste mundo não devemos nos cansar de anunciar a Cristo e promover a fé dos eleitos, para glória de Deus Pai.

Para meditação e ação
“Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus com eterna glória” (2 Tm 2:10).

Robson Rosa Santana